quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quem quer liquidar Sarney?

Texto sobre Sarney... diferente da faculdade o Senado anda bombando...
boa leitura!
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O senador Sarney é um dos remanescentes das antigas oligarquias, que participaram, por longo tempo, do comando do Estado brasileiro. Como todos os demais, ele migrou da classe dos latifundiários para a burguesia. Apoiou o golpe militar de 1964 e foi figura de proa na Arena. No final desta, foi para a Frente Liberal. Mas apercebeu-se, antes dos outros de seu partido, que o regime militar estava no fim e que, para salvar sua classe, era preciso trocar de lado e realizar uma transição negociada.

Foi essa visão que lhe valeu a candidatura a vice-presidente, na eleição indireta de Tancredo, e a presidência, ante a morte prematura do cabeça da chapa. Seu governo foi medíocre, embora tenha contribuído positivamente para a concretização das primeiras eleições presidenciais diretas, após mais de 25 anos, fundamentais para a consolidação do processo democrático no Brasil. O que não foi pouco.

Bem vistas as coisas, Sarney foi, antes de tudo, um fiel servidor de sua classe social. Algumas vezes esteve na frente dela, ao captar as tendências sociais e políticas. O que o levou a adotar posturas para salvá-la de seus próprios desacertos. Em certo sentido, ele parece acompanhar os passos sagazes de Vargas que, em seu tempo, salvou tanto os latifundiários quanto a burguesia com seu faro agudo para as mudanças em gestação na base da sociedade.

Provavelmente, foi essa intuição que levou Sarney, em 2002, bem à frente de seus partidários, a vislumbrar que era o momento de permitir que representantes dos trabalhadores experimentassem o mel e o fel de ser governo, sem ter o poder. O que lhes garantiu canais de negociação e influência no governo Lula, e benefícios evidentes para sua classe, como um todo
Diante desse histórico, o que se pergunta é: por que uma parte da burguesia decidiu liquidar, com desonra, um de seus mais sagazes representantes políticos? Seus pecadilhos, assim como vários dos seus grandes pecados, não são em nada diferentes dos que a maioria dos senadores e deputados deve confessar a seus pastores. E não se diferem em nada da prática diária da burguesia, ao realizar seus negócios. Então, por que a fúria para derrubar o senador?
A resposta a essas questões pode estar no fato do senador Sarney haver demonstrado propensão a considerar que o governo, com participação de representantes dos trabalhadores, deva ter continuidade, em 2010. Isto pode resultar na negativa de utilizar a presidência do Senado como instrumento para paralisar o governo atual. Se isso for verdade, a suposta falta de decoro parlamentar do senador não passa de cortina de fumaça. Ela esconde apenas a tentativa de derrubar o senador para, através da presidência do Senado, virar o jogo de 2010 no tapetão, impedindo o governo Lula de realizar seus principais projetos.

Porém, a resposta pode mesmo estar relacionada com deslizes na emissão de decretos secretos, ou na omissão diante deles, assim como com atos de favorecimento para empregos no Senado e na Câmara dos Deputados. Se esta for a verdade, os senadores deveriam acabar com a hipocrisia e realizar uma investigação séria, colocando-se todos sob suspeição.
Com uma investigação desse tipo, separando-se os que realmente não participaram de qualquer daqueles atos dos que os praticaram, é provável que o senador Sarney não saia ileso. Mas, certamente, levaria muita gente consigo. Seria o justo. O resto não passa de engodo de falsa moralidade e objetivos escusos.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Férias1 - O retorno!

Nesses tempos de férias
as idéias não param de borbulhar...
tirinha sobre a reforma agrária para descançar...


domingo, 26 de julho de 2009

Nova vistoria no Araguaia pode encontrar até 14 ossadas

A comissão que busca as ossadas dos desaparecidos na guerrilha do Araguaia (1972-75) visitou nesta sexta-feira (24) três áreas onde podem estar enterrados os restos mortais de até 14 militantes. Em duas delas serão feitas escavações.

O "complexo do Matrinxã" reúne até seis ossadas de guerrilheiros, segundo mateiros e moradores. José Maria Alves da Silva, o Zé Catingueiro, de 72 anos, mostrou onde estariam dois de homem e um de mulher. Numa parte densa da floresta, o local permanece igual há 40 anos. "É a área de maior expectativa, porque é estreita e apontada pontualmente", diz o antropólogo Elvis Adriano da Silva Oliveira, um dos técnicos da equipe.

A cerca de 400 metros dali, por mata fechada, estariam as ossadas de mais dois guerrilheiros — Antônio Teodoro de Castro, o Raul, e Cilon Cunha Brum, o Simão. A três quilômetros, estaria ainda Vandick Coqueiro, o João Goiano. Esses pontos devem ser escavados.

A outra região, embora bastante alterada, é a clareira do Cabo Rosa. Relatos apontam que até oito podem estar enterrados lá, entre eles Uirassu Batista, o Valdir, Renê Silveira e Silva, o Duda, Antonio Ferreira Pinto, o Alfaiate, e Helio Navarro, o Edinho. Há uma versão que este último estaria vivo.

Em um helicóptero militar, o grupo também foi à serra das Andorinhas, onde, segundo relatos de moradores e especialistas, foram queimados, ao final da guerrilha, corpos que estavam espalhados por cemitérios clandestinos. Nenhum vestígio, porém, foi encontrado nesta área.

Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Último Suspiro de Serra


Originalmente de Quanto tempo dura?

Pegando a onda do Nassif ai vai a receita do Ultimo Suspiro do Serra:

Ingredientes:

- 1 apoio irrestrito da Rede Globo
- 20 jornalistas da Folha de São Paulo
- 1 governador tarado pra ser presidente
- 1 prêmio da ONU comprado na Ri-Happy
Modo de preparo
Numa panela funda, afogue o governo Lula com um monte de denúncias falsas inventadas pela Veja. Deixe esfriar e use a Folha de São Paulo pra requentar esses mesmos factóides depois de um tempo. Aproveite essa folha usada para jogar açucar no período da ditadura
Assim que ninguém levar isso a sério e sua batata começar a assar, adicione um Sarney refogado. Salpique meia dúzia de bobos dizendo “#forasarney” pra fingir que esse tempero faz parte da massa. Se alguém perguntar o que é esse bigode diga que é do saco do feijão
Bata em uns estudantes na faculdade pro bolo crescer. Pegue os 80 pedidos de CPI do seu estado, os milhões da campanha do Arthur Virgílio e a Yeda Crusius e reserve. Reserve debaixo do tapete, bem longe.
Se publicarem uma crítica negativa do seu prato, frite jornalistas e blogueiros, mas cuidado pra não ficar azeredo.
A receita acima dá pra 1 porção de segundo lugar nas eleições de 2010. Ou você pode servir isso como merenda nas escolas do Estado de São Paulo. Convenhamos: as crianças da rede estadual de SP já comem coisa bem pior.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Fotos Guerrilha Araguaia



Compas,
aqui vai um link para ver fotos da Guerrilha do Araguaia, onde membros do Partido Comunista do Brasil foram mortos pelos militares.

Dá um saqui aqui!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

As diferentes estratégias das esquerdas latino-americanas

Virou lugar comum dizer que há duas esquerdas na América Latina: uma seria “vegetariana”, a outra “carnívora”; uma seria radical, a outra moderada; uma seria revolucionária, a outra reformista; uma seria socialista, a outra capitalista.

Definições dicotômicas deste tipo são feitas pelos porta-vozes (oficiais ou oficiosos) do Departamento de Estado dos EUA, com o propósito explícito de provocar discórdias na esquerda latino-americana, fazendo-a lutar entre si e não com os inimigos comuns.

Evidentemente, não há maneira nem motivo para negar a existência de diferenças programáticas, estratégicas, táticas, organizativas, históricas e sociológicas na esquerda latino-americana. Falaremos destas diferenças mais adiante. Mas uma interpretação dicotômica das diferenças realmente existentes, além de servir aos propósitos políticos da direita, expressa uma interpretação teórica incorreta.

O reducionismo (dizer que há duas esquerdas na América Latina) ajuda politicamente a direita, porque traz implícita a seguinte conclusão: o crescimento de uma depende do enfraquecimento da outra, numa equação que convenientemente tira de cena os inimigos comuns.

O reducionismo, ademais, é uma interpretação teórica incorreta, inclusive por não conseguir explicar o fenômeno histórico dos últimos onze anos (1998-2009). A saber: o crescimento simultâneo das várias esquerdas latino-americanas.

Ao contrário dos partidários da visão reducionista, sob qualquer das suas formas, defendemos que o fortalecimento experimentado, desde 1998 até hoje, pelas diferentes correntes da esquerda latino-americana, se deve em parte à sua diversidade, que vem permitindo expressar a diversidade sociológica, cultural, histórica e política das classes dominadas de nosso continente. Fosse homogênea e uniforme, fosse apenas uma ou duas, não apresentaria a fortaleza atual.

Defendemos, também, que a continuidade do fortalecimento das esquerdas latino-americanas dependerá em boa medida da cooperação entre as diferentes correntes existentes. Tal cooperação não exclui a luta ideológica e política entre as múltiplas esquerdas; mas esta luta precisa ocorrer nos marcos de uma máxima cooperação estratégica.

Tal cooperação será tão difícil quanto mais imperfeita for nossa compreensão acerca do processo que estamos vivendo.

A base político-material que torna possível a cooperação entre a maioria das diferentes correntes da esquerda latino-americana é a existência de uma situação estratégica comum. Se esta situação vai continuar existindo ou não, isto dependerá da luta político-social que está em curso neste exato momento.

As correntes ultra-radicais ou hiper-moderadas que se recusam a perceber a existência de uma situação estratégica comum, são exatamente aquelas que, consciente ou inconscientemente, prestam serviço às classes dominantes locais ou ao imperialismo.

( Este texto é a primeira parte da palestra apresentada por Valter Pomar, em seminário promovido pelo Instituto Rosa Luxemburgo, nos dias 2 e 3 de maio de 2009. Interessados na versão completa devem solicitar diretamente ao autor, no endereço pomar.valter@gmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email )

Valter Pomar é secretário de Relações Internacionais do PT

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Tratamento repressivo: criminalização do aborto não impede que ele seja feito


Por Kátia Rubinstein Tavares e Glória Márcia Percinoto*


Deixando de lado a visão tradicionalmente hipócrita sobre o tema, não é segredo para ninguém ser a gravidez indesejada freqüentemente interrompida em clínicas clandestinas pelas classes abastadas. Mais uma vez se pratica no Brasil uma brutal discriminação de poder aquisitivo: a mulher abastada tem condições de pagar pelo aborto, com segurança, higiene e cuidados, enquanto a mulher pobre e desesperada com a gravidez, em geral, entrega-se nas mãos dos chamados ?carniceiros?, correndo enorme perigo de vida.



No ano passado o Ministério da Saúde gastou mais de R$ 35 milhões com a internação dessas gestantes. E não foi ainda realizado estudo confiável visando determinar os verdadeiros custos para os cofres públicos gerados por essa prática incontrolada e insalubre.



Especialistas na matéria, no entanto estimam que as complicações do aborto clandestino costumem gerar custos 10 vezes maiores do que para o atendimento dos casos de aborto legal. É forçoso e lamentável se admitir que a interrupção voluntária da gravidez consista numa realidade cotidiana, clandestina e social nos países em que o aborto ainda não foi legalizado.



Afigura-se a criminalização do aborto, do ponto de vista jurídico e constitucional, um lamentável equívoco. Sua proibição expõe a mulher que decide abortar, repita-se, a severos riscos de vida e a seqüelas bem conhecidas pelo sistema de saúde brasileiro, já que a paciente recorre a expedientes duvidosos, especialmente se for pobre, sem assistência médica e sem os cuidados higiênicos básicos exigidos para a sua prática. Por esse motivo o aborto já é a terceira causa de morte materna no país.



Da forma como vem sendo tratada a matéria, ao contrário de tutelar a vida humana cria-se ameaças a outros bens jurídicos e constitucionais, como a saúde e a integridade pública das mulheres. Chega-se, assim, à seguinte conclusão: a criminalização do aborto não impede a sua realização. Proibir o aborto não acaba com ele. Assim como seria impossível proibir a existência de crianças de rua apenas baixando uma lei que isso determinasse. Por outro lado, o Brasil é recordista em abortos clandestinos (mais de um milhão por ano), além do elevado número de mortes e do comprometimento da saúde das mulheres em decorrência das péssimas condições em que são realizados entre nós.



Seria preciso que houvesse uma política do Estado de apoio, com médicos, psicólogos e assistentes sociais, voltada para o amparo da mulher carente a fim de que esta se sentisse mais segura e pudesse assim escolher pela realização ou não do aborto. Esta é uma decisão que cabe somente à própria mulher. Além disso, caso opte pela interrupção da gravidez deve ser assegurada a sua realização de forma digna e segura.



Descriminalizar a conduta penal a que está submetida à mulher e não discriminar o ser feminino, como vem ocorrendo na prática, é o caminho sensato, jurídica e sociologicamente correto. Buscar-se deslocar o tratamento jurídico tradicionalmente dado ao aborto do campo do Direito Penal, meramente repressivo, impondo à mulher o constrangimento de responder a uma ação penal e submetendo-a a pena criminal, para o campo da saúde, é dever do Estado (Constituição Federal, artigo 196).



O que aqui se advoga, assim, é a criação de condições de saúde e dignidade para os casos de abortamento inseguro provocado quando a mulher não se sinta em condições (sociais, econômicas, psicológicas ou médicas) de levar adiante uma gravidez indesejada. A opção e a decisão pela interrupção da gravidez indesejada devem, em última análise, recair sobre a própria mulher, seja no caso de estupro ou de risco de vida. Não cabe a ninguém ser contra ou a favor do aborto. O razoável é dizer que cabe à mulher e à medicina decidirem pela interrupção da gravidez indesejada.



Assim, a proposta é de descriminalização do aborto como legítima questão de Direitos Humanos segundo a qual devam ser respeitados os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da igualdade entre as mulheres de classes sociais diversas, buscando-se lembrar que a prática da interrupção da gravidez jamais deve ser imposta.



O que aqui se defende, em última análise, é a opção para as mulheres que efetivamente não se sintam em condições de procriar, de forma salubre e responsável, o não exercício da maternidade e que isso não se constitua em crime, mas, ao contrário, que tal seja feito sob a égide e a correta orientação do Estado.


*Kátia Rubinstein Tavares é advogada criminal e Glória Márcia Percinoto é advogada e membro da OAB Mulher.