quarta-feira, 30 de maio de 2007

Luta GLBT-2006

ATITUDE E RESISTÊNCIA E A LUTA GLBT

Desde a sua formação, no final de 2001, o grupo Atitude e Resistência definiu como bandeiras de luta o combate ao machismo, ao racismo e à homofobia. Entendemos que na sociedade existe uma opressão de classe, fruto do capitalismo, e opressões de raça, de gênero e de orientação sexual. Uma nova sociedade, constituída pelos valores da igualdade e do respeito à diversidade, passa necessariamente pelo entendimento que a luta dos GLBT deve estar ligada à luta das mulheres, das negras e dos negros e demais setores oprimidos.

Encarar o debate de GLBT dentro da universidade e do movimento estudantil é fundamental para a causa homossexual, porém é uma tarefa audaciosa e, por vezes, conflituosa. Primeiro porque a universidade é preconceituosa. Valores impregnados pela sociedade reproduzem-se dentro da academia e são reproduzidos por ela. Segundo porque o movimento estudantil ainda está aprendendo a lidar com a questão da homossexualidade ou da diversidade sexual, muitas vezes combatendo preconceitos arraigados e reproduzidos no passado.

Abraçar o debate de questão GLBT é sempre uma atitude louvável, partindo de que entidade/movimento/partido/ tendência que seja. No caso do grupo Atitude e Resistência, este debate permeou desde o princípio e nunca foi tratado como questão menor. Assim como em 2002 o jornal Artesanal Especial, com edição de 10 mil exemplares só sobre a questão racial foi articulado por este grupo, nossas intervenções no dia 28 de junho, com as Semanas e debates do Orgulho Gay, participações nas Paradas de Salvador, a articulação no ENUDS (Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual), credenciam o Atitude e Resistência, no mínimo como figura friendly (amigável; com bons olhos; com coleguismo; amistoso) do movimento GLBT universitário e geral.

O que se deve destacar é o princípio que norteia o trabalho do grupo, qual seja, para nós a normalidade da expressão heterossexual é a mesmíssima da homo, trans ou bissexual. Logo a heteronormatividade deve ser denunciada e combatida. Foi o que aconteceu em 2004, quando este grupo, à frente do Centro Acadêmico Luiza Mahin, exibiu vídeos vencedores do Festival Mix Brasil (um dos maiores festivais de sexualidade do mundo), no pátio desta faculdade. Setores conservadores da academia (sim, eles existem e muitos!) condenaram as cenas “impróprias para um local público”. A solução: exibir os vídeos numa sala! O grupo não aceitou, com a convicção de que o pátio é um espaço público e que pode e deve ser ocupado pelos homossexuais. O vídeo foi repetido dois dias depois, NO PÁTIO, com ótima aceitação dos estudantes. Como conseqüência, em 2005, além dos debates, realizamos um “beijaço”, no pátio, ainda como forma de ocupação do espaço público. Em 2006 a Semana GLBT de São Lázaro foi articulada pelo grupo Atitude e Resistência, com um ótimo resultado participativo e qualitativo dos debates.

Pelo trabalho já realizado e pela forma como aborda a questão, o grupo Atitude e Resistência considera que a questão GLBT é de extrema relevância, e que cotidianamente devem ser articuladas alianças com os movimentos transformadores, com a luta sindical, com a luta estudantil, com a luta feminista, com a luta pela igualdade racial, com a luta socialista, com a luta por reformas democráticas e estruturais. Só assim poderemos verdadeiramente conquistar o poder transformador na sociedade, calcado nos valores do respeito, da igualdade e da diversidade.

domingo, 27 de maio de 2007

Eleições 2006 e os difíceis caminhos para a esquerda




Depois de três tentativas frustradas nas urnas, em 2002, Lula foi finalmente eleito Presidente do Brasil. Dessa vez não seria apenas mais um dentre tantos que já ocuparam tal posto. Lula seria o primeiro chefe de estado com viés de esquerda do país – o primeiro presidente verdadeiramente brasileiro – afirmava prontamente Marilena Chauí.

Apesar dessa representativa vitória , o Lula eleito não era mais o mesmo daquele que quase derrubou Collor em 89, nem o PT, que embora ainda seja o maior partido e de mais apego popular, apresentava-se tão vermelho quanto antes, tais características já estavam expostas durante o processo eleitoral; diversos fatores já demonstravam o quanto "Lulinha paz e amor" era, na verdade, um recuo no programa de esquerda.

O fato de se ter José Alencar como vice na chapa, sob um discurso de pacto social; a carta aos brasileiros, recebida com louvor pelo mercado financeiro, a nomeação de ministros da direita como Roberto Rodrigues e mais além, as alianças no Congresso justamente com aqueles trezentos picaretas, todos esses dados, já nos oferecem substância para dizer que o Governo Lula está muito longe de ser aquela mudança que esperávamos e ainda queremos.

Como se não bastasse tais fatores, o Governo Lula sofreu graves denúncias de corrupção – uma dúzia de deputados do PT e de sua base "aliada" foram ou estiveram a vias de serem cassados pelo Parlamento.

Em meio dessa situação, deputados que deixaram ou foram expulsos do PT fundaram a alguns meses, um novo partido que, com discurso de reorganização da esquerda e combate à corrupção, apresentaram uma candidatura para Presidente, encabeçada por Heloísa Helena.

No entanto, o Governo Lula apresenta contradições, apresenta ao mesmo tempo traços tanto da esquerda, quanto da direita. O mesmo presidente que nos coloca essa reforma universitária e a reforma da previdência , é o mesmo que avança enormemente nas políticas para população negra com o Estatuto da Igualdade Racial, e constrói o Fundeb, rearticulando o ensino básico no país. Tanto é, que boa parte dos movimentos de luta, como movimento Negro e o MST vêem nesse governo a possibilidade de diálogo e de terem suas reivindicações ouvidas.

Lula não indicou Henrique Meirelles (um ex-tucano) para Presidente do BC por acaso, assim como FHC jamais indicaria João Pedro Stedile para ministro da reforma agrária. Tudo isso se deve a uma disputa política de base que acontece dentro do PT e nos movimento sociais em que ela atua.

Acontece que grupos políticos, mais inclinados ao centro ou a direita compuseram desde 95, o chamado Campo majoritário na direção do partido, e implementaram sua política de ceder espaço a burguesia dentro do governo,e vê com bons olhos a aliança com a direita. Ano passado, esse Campo Majoritário foi derrotado nas eleições do PED, o que nos permite pensar num avanço, para um futuro Governo Lula.

Mas então, qual será o lugar dos revolucionários nas próximas eleições? Disputando avanços na candidatura Lula, ou se inclinando para a frente PSOL, PSTU, PCB?

O grupo "Atitude e Resistência" acredita na primeira alternativa. Não porque queiramos polarizar com companheiros ex-militantes do PT. Nós vemos com simpatia o fortalecimento de partidos de esquerda no território eleitoral. Mas também temos com
bastante firmeza na nossa análise que os nossos inimigos são a direita, tanto a que está dentro do Governo Lula, quanto aquela que se apresenta na candidatura Alckmin , o que há de mais reacionário na política brasileira.

Recentes declarações dos diversos lados da Frente, nos permite ser pessimista quanto a sua chapa. O posicionamento da presidenciável contra o aborto, o discurso purista e quase reacionário de defesa da moralidade, as severas divergências entre o candidato a vice-presidente César Benjamim (ex- Consulta popular) e o PSTU nos oferece os seguintes diagnósticos: 1) a candidatura Heloísa helena não tem representado um acúmulo real para a esquerda. 2) aqueles grupos que concordavam quando denunciavam o Governo Lula não necessariamente convergem na construção de um programa de unidade, ou seja, tem faltado em propostas concretas. 3) Uma candidatura alternativa, não se traduz em ganho político, caso não seja construída por um movimento de massas. 4) A conjuntura nacional não nos permite uma reorganização das esquerdas, de baixo para cima, tendo em visto a crise da maioria dos movimentos sociais.5)a vacilação em dizer quem apoiará num segundo turno entre Lula e Alckmin, a fuga das respostas sobre a possibilidade de aliança entre PT, PC de B e outros partidos para conquista governabilidade e; sobre a atuação desses grupos caso não cumpram a cláusula de barreira é demonstração evidente de falta de organicidade política.

Tal qual se afirma que existe uma falsa polarização entre Lula e Alckmin , basta ver o crescimento de HH nas pesquisas, reforçado pelo apoio de Garotinho. Podemos afirmar que também é falso o discurso que diz serem acríticos os que apostam na candidatura Lula, ou que defender essa opção é concordar com os erros que o governo aprova.

A postura central para a esquerda não deve ser escolher entre a candidatura um pouco mais a esquerda, nem resumir tudo votando em Lula apenas por medo de Alckmin. As duas perspectivas tem horizonte muito estreito e reiteram a política do menos pior. O debate deve girar em torno de qual a possibilidade real de se construir um projeto socialista, fruto de amplos debates e inserção nos movimentos sociais.

E tendo em vista as atuais alternativas, numa eventual vitória de Alckmin, o grupo "Atitude e Resistência" estará em todos os espaços, fazendo o debate ideológico e programático e unificando as esquerdas para se opor a tal governo. Numa possível vitória de Heloísa Helena, certamente estaremos construindo um diálogo. Mas se Lula receber os votos da maioria dos brasileiros estaremos fazendo as críticas necessárias, e disputando ponto por ponto para que a esquerda se faça mais forte no governo, nas instituições e na sociedade.

Atitude e Resistência

ME Nacional-2006

ATITUDE e RESISTÊNCIA no ME Nacional

A União Nacional dos Estudantes vive uma de suas maiores crises de legitimidade frente à comunidade estudantil. A entidade representativa do movimento estudantil brasileiro alcança sete décadas de história numa conjuntura política delicada de divisão da esquerda e descenso da mobilização social.

Para encontrar as possíveis causas da crise da UNE sem correr o risco de fazer análises descoladas da realidade e do momento político atual que vivemos, deve-se compreender a luta estudantil como um setor dentre tantos outros movimentos sociais que enfrentam o mesmo refluxo proveniente de quase 20 anos de ofensiva do neoliberalismo e de sucessivos ataques para com suas bandeiras e organização.

Para além de visualizar o pano de fundo vivido pelos movimentos sociais no Brasil, é preciso apontar também que especificidades são próprias da organização estudantil e de que maneira estas determinam ou ajudam a explicar a crise do movimento e de suas representações.

Dentre as causas específicas, podemos citar aquelas estruturais, ou seja, problemáticas que são e sempre serão próprias do ME; e aquelas conjunturais, que dizem respeito ao momento que vive a UNE e a base social que a compõe.

O caráter transitório da militância política de um estudante que, diferentemente de outros movimentos, atua durante somente três ou quatro anos em média, torna a luta estudantil refém da conjuntura mais do que qualquer outro setor do movimento social. Sempre foi assim e sempre será. Se os dias são de dificuldade para a mobilização na sociedade em geral, isso atinge ainda com mais força o ME.

Outro fator que se pode classificar como próprio do ME é o seu caráter policlassista que dificulta muito a organização em massa das(os) estudantes em torno de um projeto de esquerda e que aponte para a superação do neoliberalismo e de suas investidas na educação.

Só isso já faz com que o movimento estudantil tenha uma dificuldade enorme de se organizar ou ao menos de se manter organizado por um período longo.

No entanto, o diagnóstico completo da atual crise (que há muito já deixou de ser uma simples crise de direção) só é possível fazer apontando os elementos conjunturais vividos ME nos últimos anos.

Numa tentativa de síntese desses elementos, deve-se no mínimo apontar alguns aspectos e momentos decisivos sem os quais não se pode compreender a falta de legitimidade que hoje abala a UNE e a luta estudantil.

O mais significativo deles, como não poderia deixar de ser, é a postura adotada ao longo dos últimos anos pela direção majoritária dentro da entidade, leia-se UJS/PCdoB.

Desde que assumiu a maioria absoluta nos correntes processos de disputa da direção da UNE, o PCdoB opera um aparelhamento cada vez mais sistemático no sentido de mantê-la sempre devidamente submetida às suas intervenções e interesses dentro do ME.

Desse fator (o aparelhamento), a UNE sofreu três outros golpes sucessivos que colocam em xeque a sua representatividade.

Primeiro, a disputa ideológica necessária que devia ser encabeçada pela entidade para transformações reais dentro da juventude hegemonizada por valores do mundo capitalista, cada vez mais foi sendo substituída pelo ‘senso comum’ aplicado pela UJS. As teses apresentadas pelo PCdoB nos espaços da UNE há tempos não consegue fazer uma análise séria sobre a importância da luta estudantil por uma sociedade justa e igualitária que nunca poderá ser construída nos marcos do capitalismo. Disso, a intensificação da desmobilização dos estudantes foi a mais grave conseqüência.

O segundo golpe sofrido pela entidade veio depois da eleição de 2002, quando o aparelhamento da direção majoritária foi potencializado. Dessa vez para evitar ou impedir a construção de qualquer mobilização que se manifestasse mais criticamente a determinados erros cometidos pelo Governo Lula, visto que o PCdoB apóia e compõe este governo desde seu início. A atuação da UJS a partir daí dentro da UNE tornou-a ainda mais inoperante.

O último e mais recente golpe sofrido pela entidade maior representativa de nossa organização veio em parte como conseqüência da própria inoperância da entidade, em parte por uma avaliação equivocada de algumas forças políticas que, diante dessa inoperância, desistiram de lutar por uma UNE combativa e referenciada na base. Apostam agora numa alternativa por fora dela.

O equívoco histórico desses companheiros e companheiras não é de responsabilidade unicamente deles. Umas das grandes responsáveis pelo desencadeamento do divisionismo é a própria UJS.

Mas os setores que hoje tentam construir a chamada Conlute não compreendem que a solução para a reorganização estudantil está além da criação de uma nova direção. Se assim não fosse, esses setores já teriam conseguido alcançar alguma legitimidade entre aqueles e aquelas que negam ou não reconhecem a UNE. O que não aconteceu e não vai acontecer porque aqueles e aquelas estudantes que hoje não reconhecem a UNE, em sua esmagadora maioria também não reconhecem a Conlute, porque simplesmente não reconhecem a própria importância da luta e da organização em uma entidade combativa.

O problema do não ‘reconhecimento’ das entidades não se dá simplesmente porque suas direções são “pelegas”, ou porque não operam a luta. A base estudantil (e aqui entenda-se não somente a base estudantil organizada, mas também aquela que não se organiza) não tem perspectiva de mudança. Em sua grande maioria não ocupa nem as assembléias de seu curso, e muito menos acreditam numa articulação nacional que possa servir de instrumento de luta por uma educação pública e de qualidade.

Por outro lado, a UNE ainda tem potencial e base (ainda que despolitizada) para se tornar uma entidade comprometida com a luta. O PCdoB se utiliza do discurso vazio para obter ampla maioria e manter a entidade sob seu controle. Politizar as discussões e análises de conjuntura e disputar essa base de estudantes que hoje comparece às instâncias políticas da UNE unicamente para ir aos shows e levantar o crachá no último dia para as proposições da UJS tem que ser uma luta de todos os grupos críticos e cientes do difícil momento de desmobilização que passamos. Inclusive aqueles que hoje tentam construir a luta por fora.

O grupo ‘Atitude e Resistência’ acredita que não precisamos de novas direções. Precisamos solucionar nossos problemas pela base do movimento e conseguir reerguer aquela que sempre foi o instrumento de luta de cada estudante no país. A UNE somos nós. Nossa força, nossa voz.

ATITUDE e RESISTÊNCIA é Emily (2006), Carol, Dudu, Caio, Igor Costa, Elisa, Ediana, Michael, Andréia e Ipirá (2005), Rafael e Igor Almeida (2004), Gabriel (2003), Alex, Wesley, Daniel e Denise (2001)

sábado, 19 de maio de 2007

Sobre a UNE e o Salvador Card-2006

SALVADORCARD E UNE: UM DEBATE NECESSÁRIO


Já está bastante claro que o salvadorcard é um tremendo retrocesso, que ele vai de encontro aos interesses dos estudantes e que deve ser combatido na sua totalidade. Quando vemos o SETPS querendo aprontar novamente conosco, não nos surpreendemos, mas no momento em que ouvimos que uma entidade estudantil age contra os estudantes temos que ampliar as reflexões à respeito do que está acontecendo.

MAS, QUEM É A UNE MESMO?

Ao contrário do que se tenta difundir, a UNE não é um bloco homogêneo maligno ou algo parecido. A UNE é uma entidade, e como toda entidade, tem uma direcão,  que é formada por um ou mais grupos políticos. No caso da UNE, esta direcão é composta de forma proporcional, ou seja, os cargos são preenchidos por diversas chapas que disputaram as eleições proporcionalmente  ao numero de votos que elas receberam. O fato de ser proporcional não quer dizer que todos "apitam" lá dentro. Muito pelo contrario, há muitos anos que a UJS (juventude do PCdoB) tem obtido uma ampla maioria na direção  conseguindo "dar a linha" da UNE.

Dentro da própria executiva da UNE, existem grupos de oposição direta à direção majoritária, inclusive grupos que são radicalmente contra o salvadorcard. Trocando em mudos: direção é direção, entidade é entidade. Bater na entidade por algo que a sua direção faz não é lógico, principalmente quando não há uma homogeneidade nos grupos que a compõem. Os companheiros do PSTU sabem muito bem desta diferença entre entidade e direção, e quando eles gritam aos ventos palavras de ordem contra a entidade eles o fazem de forma consciente, além de ser completamente coerente com a sua estratégia e o projeto político que eles defendem. Vamos a eles então.

POR QUE "QUEIMAR" A UNE?

Ate pouco tempo atrás, os companheiros do PSTU faziam parte e legitimavam a UNE. O que mudou? Basicamente a sua análise de conjuntura, que apontou para uma diferente estratégia. O PSTU avalia hoje que a UNE  não só está indisputável, como também que a sua burocratização e o seu afastamento dos estudantes a impede de voltar a ser um instrumento de luta. Avaliam também que muitos estudantes estão descontentes com a UNE e que seria importante criar uma nova entidade para com eles formar uma nova ferramenta de luta.

Essa análise (e a estrategia de ação que ela orienta) são frutos de um tipo de concepção política dos companheiros do PSTU. Para eles. o processo que a UNE passa advém de uma crise de direção (apesar de não falarem sobre o existência de uma "direção" da UNE nos atos e nas assembleias) e que a UNE é indisputável. Ora, este pensamento é um tanto quanto simplista. Não se pode negar toda a contribuição da UJS na crise da UNE, mas a "crise" tem raízes muito mais profundas. A hegemonia do pensamento neoliberal atinge toda a população, que passa a não legitimar (e até mesmo rejeitar) não só as entidades, como também os partidos políticos e os governos. A questão não é de reconquistar a UNE, é a de reconquistar os estudantes, e é ai que o PSTU peca.

QUAL O PROBLEMA DESSA POSTURA?

Ao avaliar tudo como crise de direção, o PSTU deixa transparecer a sua concepção de movimento e de vanguarda, que por vezes se aproxima da concepção da UJS. O PSTU termina criando como efeito colateral de seus argumentos uma falsa dicotomia entre uma direçào pelega e uma base super radical. Ora, nem mesmo eles acreditam na existência dessa massa super-radical, se ela existisse a revolução já teria ocorrido há muito. Assim, o que se apreende da concepção deles é que a base do movimento é uma massa de manobra idiotizada e/ou alienada que a UJS usa na sua pelegagem. Assim, uma nova entidade com uma nova direçào "guiaria” os estudantes para uma atuação mais radical.

Ninguém vai negar que existe uma falta de informação profunda à maioria dos estudantes, sem contar que como os outros grupos políticos não fazem um trabalho de base real com eles, eles terminam achando que a UJS é o que há de mais à esquerda e combativo. É por isso que não adianta nada construir uma nova entidade, por mais radical e de luta que seja a sua direçào, se não for feito um forte trabalho de base com os estudantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A nossa avaliação é de que os companheiros do PSTU estão jogando com a desinformação de boa parte das pessoas que estão participando das lutas contra o salvadorcard, aproveitando-se do vácuo de outros grupos políticos que não estão efetivamente presentes (a crítica a eles também deve ser feita). É óbvio que não são apenas eles que gritam contra a UNE, muitos falam mal da UNE de forma espontânea, mas no momento em que eles sabem a diferença entre direção e entidade e não o falam, contribuem para a despolitização.

O grupo que está na gestão atual da coordenação executiva do centro académico é radicalmente contra o salvadorcard. Em todos os sentidos. Não somos a favor de romper com a UNE também por uma questão de projeto polílico e visão de movimento, e continuamos participando da luta. É importante que todos lutem para barrar o salvadorcard, sem nunca deixar de aprofundar o debate.

Apresentação-2006

“ATITUDE E RESISTÊNCIA”

    O campo “Atitude e Resistência” é um grupo da esquerda do curso de História da UFBA e que hoje ocupa a Coordenação Executiva do Centro Acadêmico Luiza Mahin. Nossa militância teve início ainda em 2002, quando estudantes ainda calouros decidiram por organizar uma chapa e concorrer ao Centro Acadêmico. Naqueles tempos, o curso se encontrava bastante desmobilizado, no CA restavam como referência apenas dois estudantes já próximos da formatura, tentando incentivar a participação dos alunos na política estudantil. Nesse contexto, organizava-se o “Atitude e Resistência”, formado exclusivamente por estudantes recém-ingressos na Universidade, que, inscrito como chapa única, conquistou o direito de coordenar o C.A. e iniciou assim um projeto de reconstrução do movimento estudantil de História.

     Aquela primeira gestão cumpriu com sucesso todas as propostas a que se dispôs. Numa entidade em reconstrução, a simples existência de um grupo organizado que possa responder por ela já supriria as expectativas para um primeiro ano. Mesmo assim, o grupo atuou de forma bastante incisiva e consciente em importantes discussões que se processavam na sociedade brasileira, como por exemplo, a eleição presidencial de 2002, a ALCA e a política de ações-afirmativas para negros nas Universidades.

     Não obstante a inexperiência, aquela gestão foi conquistando respeito frente aos estudantes e credibilidade suficiente para enfrentar o maior desafio para um curso em fase de amadurecimento: aprovar o estatuto do Centro Acadêmico, algo fundamental para qualquer entidade. Para conseguir tal objetivo, foi formada uma Comissão Gestora (2003/2004) tirada em assembléia por auto-indicação que após nove meses (um verdadeiro parto) de assembléias, debates, brigas e discussões teve seu esforço recompensado com um dos mais avançados estatutos do Movimento Estudantil da Ufba e que ainda hoje é referência para CA’s e DA’s de todo país.

     Em 2004, chegava a hora de mais um processo eleitoral. Agora não mais uma chapa única, dessa vez dois projetos iriam se confrontar nas eleições. E o resultado não poderia ser mais disputado, 49x46, mostrando como os discentes de história estavam cada vez mais amadurecidos e seriam mais criteriosos nas suas escolhas. Nessa gestão, ocorrida em um ambiente de discussões políticas mais acirradas, o grupo sempre esteve presente em questões chaves da UFBA. As discussões e a aprovação da política de cotas e a greve de estudantes e professores foram alguns dos principais temas que movimentaram o grupo nesse período. Além disso, o grupo consolidava, neste momento, uma nova forma de fazer política estudantil , valorizando o diálogo, o combate ao vanguardismo e fortalecendo lutas para tornar a universidade muito mais aberta às pluralidades presentes em nossa sociedade.

     Depois dessa segunda gestão que atravessou uma série de greves, o nosso calendário ficou comprometido, por conta disso, outra comissão gestora, no primeiro semestre de 2005 foi necessária para a reorganização do calendário. A partir desse momento iniciara uma nova fase no grupo “Atitude e Resistência”. Aqueles “dinossauros” que construíram o grupo estavam prestes a se formar, e assim uma renovação do grupo foi necessária. E dessa forma aconteceu, com uma chapa recheada de novos nomes, o “Atitude e Resistência” entrou na disputa, apresentou um programa sério aos estudantes e assim foi eleito por ampla vantagem de votos (88 a 40). O resultado desse processo repercutiu decisivamente no caminho tomado pelos campos do movimento estudantil no curso.

     Alguns militantes que tradicionalmente compunham a oposição ao Centro Acadêmico, hoje já não atuam mais. Certamente outras pessoas aparecerão, contudo seria impossível pensar numa reprodução dos mesmos equívocos cometidos durante todo o ano de 2005. Ao menos um programa de gestão mais trabalhado e um tanto de coerência nos posicionamentos são o mínimo que os estudantes de História merecem desta vez.

ATUAL CONJUNTURA DO CURSO

    O ano de 2006 tem tudo para ser um dos mais interessantes da história recente do ME de História. Mas certamente esse movimento tão dinâmico não foi construído por acaso. Ele é conseqüência de um conjunto de fatores que convergiram nesse momento e apontam para uma maior politização do curso.

     Vale lembrar que nesse ano teremos eleições para Presidente. Sem dúvida, período eleitoral aquece ainda mais o debate nos movimentos sociais. Sobretudo quando a esquerda se divide e apresenta duas chapas para eleição majoritária . Talvez em 2002 a conjuntura fosse diferente, a eleição de Lula derrotando oito anos de governo FHC apontava para um caminho mais fácil para a esquerda . Alguns certamente viam tal situação como um caminho sem volta, enfim estaria em vigor um projeto de esquerda. Mas isso ainda não aconteceu, tornando 2006 um ano ainda mais capital para a esquerda socialista.

     Outro fator significante foi a entrada dos alunos cotistas. A nossa universidade deu um passo definitivo quando aprovou o sistema de cotas. Todos os debates sobre assistência estudantil, inclusão de negros e negras na sociedade, nos ofereceram uma universidade mais responsável ou na necessidade de sê-lo. Em História , a presença desses estudantes só favoreceu ao movimento. Esse dado é importante para lembrarmos o quanto os departamentos CA’s e DCE’s devem estar atentos para a alteração no corpo estudantil da UFBA, que devem mais do que nunca, agir numa perspectiva de mudança social.

     Com o intuito de atender as expectativas dos estudantes de História que o “Atitude e Resistência” decidiu por lançar esse conjunto de documentos expondo o que acreditamos por movimento estudantil e de que forma temos atuado no M.E. de história enquanto Coordenação Executiva do Centro Acadêmico ou comissão gestora. Acreditamos que a forma de condução da nossa política, contribuiu para essa interessante conjuntura no curso. Sempre optamos por colocar diversas forças nas mesas que realizamos, estabelecemos discussões importantes nos jornais e ocupando o maior número de espaços que uma entidade de base pode ocupar, dessa forma ampliando nossa esfera de atuação para responder devidamente a nova dinâmica do movimento. Dessa forma, nossa luta tem sido por uma participação massiva e com qualidade dos estudantes. Não confiaremos mais nos discursos iluminados revolucionários, não somos porta-voz de ninguém, nem queremos base para supermilitantes; acreditamos nas bandeiras de luta conjuntas e, nas divergências, a disputa aprofundada de idéias e programas.

domingo, 13 de maio de 2007

Histórico-2005


E a luta não pára...

Chovia na tarde daquele dia... Éramos onze recrém ingressos na universidade, e ainda nos norteando naqueles novos espaços. Alguns de nós decidimos, dias antes, em conversa informal, porém esperançosa, formar uma chapa para concorrer e ocupar(literalmente) o Centro Académico do curso de história. Sua j simples sala encontrava-se vazia e os membros da chapa anterior se desarticularam por completo, sobrando apenas dois. Mais tarde, nos serviram de apresentadores do nosso novo espaço.

Mas voltemos àqueles que desejavam preencher o centro académico. Concluíram, após longas conversas, que queriam formar uma chapa e foram convidando mais alguns, utilizando como parâmetros para esta escolha referências muito próprias daquele momento histórico, por assim dizer. Quase todas aquelas garotas e rapazes eram inexperientes em entidades representativas, ainda se entendendo ( e aproximando) ao político espaço da universidade. Não possuíam nenhum currículo prévio de militância, nem uma definição clara daquilo que queriam fazer. Mas um sentimento nos unia, além da amizade: a vontade de mudar o cenário de completa falta de referência de movimento estudantil no curso, de uma entidade capaz minimamente de poder dizer "eu existo".

Assim aglutinados, ocupamos o espaço do CA e organizamos uma Van para o EREH daquele ano (2002). Ainda não éramos gestão, mas estudantes em movimento. Deste momento em diante não paramos mais. Fizemos, logo após, um pleito eleitoral de verdade e então pudemos nos empossar democraticamente (numa assepsia bem própria da palavra). Era dia vinte dois dei abril de 2002. A gestão "fazendo a história acontecer", nome duramente  escolhido entre "sua participação muda a história", que até hoje não sabemos exatamente o por que escolhemos o primeiro, começava sua história.

Cumprimos naquele ano tudo a que nos propusemos e ainda ganhamos, e isso achamos que sempre se ganha, muita experiência de vida e de UFBA. Das realizações da gestão, há uma que merece crédito maior. Ainda no tempo da apresentação dos nossos veteranos ao CA, fomos incitados a fazer uma tarefa, que segundo palavras do antigo membro, era uma tarefa que, se realizada, "estaria [a gestão] de bom tamanho, ou melhor, ótimo tamanho...(risos)"... Era o Estatuto, corpo regimental que dá ordem a entidade. Mas não é que fizemos?!! Mas nesse fazer, podemos até reclamar ao gênero feminino a exclusividade de parir alguma coisa. Foram nove árduos meses. Nesse processo realizamos inúmeras assembleias, as quase famigeradas "assembleias estatuintes". Foi tanto trabalho, que findado o dia 22 de abril de 2003, ou seja, um ano depois, era preciso ainda muitas assembléias para termina-lo. Decidimos, então, continuar como uma comissão gestora, com fim exclusivo de terminar o futuro, rebento, e poder dai realizar uma nova eleição. Lá se foram mais assembleias, com direito a tensões, sorrisos e muitas "gulozinhas", bolachas "poka-zoio" e vinho na derradeira. E terminamos. Era possível fazer uma nova eleição.

Mas o mundo São Lazarino, e por que não do curso, mudou muito nesse tempo. Tínhamos recepcionado duas turmas de calouros (foram mais duas turmas depois). Mostramos que aquele curso possuía entidade e que essa referencia já não mais podia ser de fato ignorada. O curso tinha ganhado, e contribuímos muito para isto, uma outra dinâmica de movimentação estudantil.

Mas nem tudo foram flores para aquelas garotas e rapazes reunidos em 2002. Alguns dos seus membros, por forças maiores, tomaram uma postura diferente daquela que nos mantinha unidos. Pensavam o movimento, e isso se refletia nas suas ações e práticas, de forma diversa em muitos pontos daquele grupo que se formara. Preferiram sair, montar uma outra chapa. Os que permaneceram, decidiram tentar montar uma chapa no intuito de continuar a prática e incluir novos projetos para o curso. Passada a eleição, nos sagramos Coordenação Executiva do CA por mais um ano. Foi uma gestão conturbada e perpassada por uma greve de quase quatro meses. Um ano letivo de atuação política e acadêmica em tempos de Reforma Universitária, greve de estudantes, amor ou ódio à Partidos políticos, crise no DCE e construção do Congresso da UFBa.

Os novos membros decidiram se somar por construírem uma percepção, e isso vale para todo estudante, que naquele grupo havia um projeto de movimentação estudantil, de prática cotidiana, uma postura frente ao curso, de diálogo e compreensão da alteridade, entre causas e gasto de energia por lutas essenciais como a garantia da Universidade pública e de qualidade. É um aspecto que transcende a qualquer tentativa de controle dos membros da chapa, e desmonta aqueles partidários ou anti-partidários da política de canto, ou eufemicamente chamada 'política de convencimento', baseada em inflamados discursos ao pé do ouvido (e pouca prática). A construção dessa percepção, que ao nosso ver, alicerçou nossas gestões, permanece e tende a permanecer. Não é gratuita e pairando num mundo das ideias, pois reflete uma prática de movimento estudantil preservada por nosso grupo.

     Não queremos, é bom deixar claro, nos mostrar como depositários do que há de melhor, do modelo ideal de movimentação estudantil. Contudo, nos orgulhamos daquilo que construímos e ainda pretendemos construir. O grupo, que é produtor e resultado dessa prática, e possuidor de uma visão (no sentido amplo) de universidade, permanece com seus membros, e como já afirmamos, somando-se sempre a novos. Tal qual foi na ultima gestão, esse processo de renovação é constante e necessário uma vez que novos membros trazem novas e oportunas contribuições. Desta forma, para aqueles que, com sua participação mudaram a história do curso e agora seguiram outros rumos, se despedem com a sensação de contribuição para a construção daquilo que entendemos uma Universidade mais digna e humana. E para os(as) novos(as), sejam bem vindos(as) e boa Luta.

Documento oficial tio Grupo Atitude e Resistência Gestão "Fazendo a História acontecer..." e "Pra continuar fazendo a
História acontecer..."
Daniel, Wesley, Denise, Aline, Pedro, Flávia, Alex, Lacerda (2001), Vitor, Júlio (2002). Gabriel. Leonardo (2003)