sábado, 19 de maio de 2007

Sobre a UNE e o Salvador Card-2006

SALVADORCARD E UNE: UM DEBATE NECESSÁRIO


Já está bastante claro que o salvadorcard é um tremendo retrocesso, que ele vai de encontro aos interesses dos estudantes e que deve ser combatido na sua totalidade. Quando vemos o SETPS querendo aprontar novamente conosco, não nos surpreendemos, mas no momento em que ouvimos que uma entidade estudantil age contra os estudantes temos que ampliar as reflexões à respeito do que está acontecendo.

MAS, QUEM É A UNE MESMO?

Ao contrário do que se tenta difundir, a UNE não é um bloco homogêneo maligno ou algo parecido. A UNE é uma entidade, e como toda entidade, tem uma direcão,  que é formada por um ou mais grupos políticos. No caso da UNE, esta direcão é composta de forma proporcional, ou seja, os cargos são preenchidos por diversas chapas que disputaram as eleições proporcionalmente  ao numero de votos que elas receberam. O fato de ser proporcional não quer dizer que todos "apitam" lá dentro. Muito pelo contrario, há muitos anos que a UJS (juventude do PCdoB) tem obtido uma ampla maioria na direção  conseguindo "dar a linha" da UNE.

Dentro da própria executiva da UNE, existem grupos de oposição direta à direção majoritária, inclusive grupos que são radicalmente contra o salvadorcard. Trocando em mudos: direção é direção, entidade é entidade. Bater na entidade por algo que a sua direção faz não é lógico, principalmente quando não há uma homogeneidade nos grupos que a compõem. Os companheiros do PSTU sabem muito bem desta diferença entre entidade e direção, e quando eles gritam aos ventos palavras de ordem contra a entidade eles o fazem de forma consciente, além de ser completamente coerente com a sua estratégia e o projeto político que eles defendem. Vamos a eles então.

POR QUE "QUEIMAR" A UNE?

Ate pouco tempo atrás, os companheiros do PSTU faziam parte e legitimavam a UNE. O que mudou? Basicamente a sua análise de conjuntura, que apontou para uma diferente estratégia. O PSTU avalia hoje que a UNE  não só está indisputável, como também que a sua burocratização e o seu afastamento dos estudantes a impede de voltar a ser um instrumento de luta. Avaliam também que muitos estudantes estão descontentes com a UNE e que seria importante criar uma nova entidade para com eles formar uma nova ferramenta de luta.

Essa análise (e a estrategia de ação que ela orienta) são frutos de um tipo de concepção política dos companheiros do PSTU. Para eles. o processo que a UNE passa advém de uma crise de direção (apesar de não falarem sobre o existência de uma "direção" da UNE nos atos e nas assembleias) e que a UNE é indisputável. Ora, este pensamento é um tanto quanto simplista. Não se pode negar toda a contribuição da UJS na crise da UNE, mas a "crise" tem raízes muito mais profundas. A hegemonia do pensamento neoliberal atinge toda a população, que passa a não legitimar (e até mesmo rejeitar) não só as entidades, como também os partidos políticos e os governos. A questão não é de reconquistar a UNE, é a de reconquistar os estudantes, e é ai que o PSTU peca.

QUAL O PROBLEMA DESSA POSTURA?

Ao avaliar tudo como crise de direção, o PSTU deixa transparecer a sua concepção de movimento e de vanguarda, que por vezes se aproxima da concepção da UJS. O PSTU termina criando como efeito colateral de seus argumentos uma falsa dicotomia entre uma direçào pelega e uma base super radical. Ora, nem mesmo eles acreditam na existência dessa massa super-radical, se ela existisse a revolução já teria ocorrido há muito. Assim, o que se apreende da concepção deles é que a base do movimento é uma massa de manobra idiotizada e/ou alienada que a UJS usa na sua pelegagem. Assim, uma nova entidade com uma nova direçào "guiaria” os estudantes para uma atuação mais radical.

Ninguém vai negar que existe uma falta de informação profunda à maioria dos estudantes, sem contar que como os outros grupos políticos não fazem um trabalho de base real com eles, eles terminam achando que a UJS é o que há de mais à esquerda e combativo. É por isso que não adianta nada construir uma nova entidade, por mais radical e de luta que seja a sua direçào, se não for feito um forte trabalho de base com os estudantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A nossa avaliação é de que os companheiros do PSTU estão jogando com a desinformação de boa parte das pessoas que estão participando das lutas contra o salvadorcard, aproveitando-se do vácuo de outros grupos políticos que não estão efetivamente presentes (a crítica a eles também deve ser feita). É óbvio que não são apenas eles que gritam contra a UNE, muitos falam mal da UNE de forma espontânea, mas no momento em que eles sabem a diferença entre direção e entidade e não o falam, contribuem para a despolitização.

O grupo que está na gestão atual da coordenação executiva do centro académico é radicalmente contra o salvadorcard. Em todos os sentidos. Não somos a favor de romper com a UNE também por uma questão de projeto polílico e visão de movimento, e continuamos participando da luta. É importante que todos lutem para barrar o salvadorcard, sem nunca deixar de aprofundar o debate.

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