sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Historia do Carnaval



Conceito e origem:
O carnaval é um conjunto de festividades populares que ocorrem em diversos países e regiões católicas nos dias que antecedem o início da Quaresma, principalmente do domingo da Qüinquagésima à chamada terça-feira gorda. Embora centrado no disfarce, na música, na dança e em gestos, a folia apresenta características distintas nas cidades em que se popularizou.

O termo carnaval é de origem incerta, embora seja encontrado já no latim medieval, como carnem levare ou carnelevarium, palavra dos séculos XI e XII, que significava a véspera da quarta-feira de cinzas, isto é, a hora em que começava a abstinência da carne durante os quarenta dias nos quais, no passado, os católicos eram proibidos pela igreja de comer carne.

A própria origem do carnaval é obscura. É possível que suas raízes se encontrem num festival religioso primitivo, pagão, que homenageava o início do Ano Novo e o ressurgimento da natureza, mas há quem diga que suas primeiras manifestações ocorreram na Roma dos césares, ligadas às famosas saturnálias, de caráter orgíaco. Contudo, o rei Momo é uma das formas de Dionísio — o deus Baco, patrono do vinho e do seu cultivo, e isto faz recuar a origem do carnaval para a Grécia arcaica, para os festejos que honravam a colheita. Sempre uma forma de comemorar, com muita alegria e desenvoltura, os atos de alimentar-se e beber, elementos indispensáveis à vida.

Período de duração:

Os dias exatos do início e fim da estação carnavalesca variam de acordo com as tradições nacionais e locais, e têm-se alterado no tempo. Assim, em Munique e na Baviera (Alemanha), ela começa na festa da Epifania, 6 de janeiro (dia dos Reis Magos), enquanto em Colônia e na Renânia, também na Alemanha, o carnaval começa às 11h11min do dia 11 de novembro (undécimo mês do ano). Na França, a celebração se restringe à terça-feira gorda e à mi-carême, quinta-feira da terceira semana da Quaresma. Nos Estados Unidos, festeja-se o carnaval principalmente de 6 de janeiro à terça-feira gorda (mardi-gras em francês, idioma dos primeiros colonizadores de Nova Orleans, na Louisiana), enquanto na Espanha a quarta-feira de cinzas se inclui no período momesco, como lembrança de uma fase em que esse dia não fazia parte da Quaresma. No Brasil, até a década de 1940, sobretudo no Rio de Janeiro, as festas pré-carnavalescas se iniciavam em outubro, na comemoração de N. Sra. da Penha, crescia durante a passagem de ano e atingia o auge nos quatro dias anteriores às Cinzas — sábado, domingo, segunda e terça-feira gorda. Hoje em dia, tanto em Recife (Pernambuco), quanto em Salvador (Bahia), o carnaval inclui a quarta-feira de cinzas e dias subseqüentes, chegando, por vezes, a incluir o sábado de Aleluia.

CARNAVAL NO BRASIL

O carnaval foi chamado de Entrudo por influência dos portugueses da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde, que trouxeram a brincadeira de loucas correrias, mela-mela de farinha, água com limão, no ano de 1723, surgindo depois as batalhas de confetes e serpentinas. No Brasil, o carnaval é festejado tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. Na Bahia, é comemorado também na quinta-feira da terceira semana da Quaresma, mudando de nome para Micareta. Esta festa deu origem a várias outras em estados do Nordeste, todas com características baianas, com a presença indispensável dos Trios Elétricos e são realizadas no decorrer do ano; em Fortaleza realiza-se o Fortal; em Natal, o Carnatal; em João Pessoa, a Micaroa; em Campina Grande, a Micarande; em Maceió, o Carnaval Fest; em Caruaru, o Micarú; no Recife, o Recifolia, já extinto.

CARNAVAL NO RECIFE

Século XVII - De acordo com as antigas tradições, mais ou menos em fins do século XVII, existiam as Companhias de Carregadores de Açúcar e as Companhias de Carregadores de Mercadorias. Essas companhias geralmente se reuniam para estabelecer acordo no modo de realizar alguns festejos, principalmente para a Festa de Reis. Esta massa de trabalhadores era constituída, em sua maioria, de pessoas da raça negra, livres ou escravos, que suspendiam suas tarefas a partir do dia anterior à festa de Reis. Reuniam-se cedo, formando cortejos que consistia de caixões de madeira carregados pelo grupo festejante e, sentado sobre ele uma pessoa conduzindo uma bandeira. Caminhavam improvisando cantigas em ritmo de marcha, e os foguetes eram ouvidos em grande parte da cidade.

Século XVIII - Os Maracatus de Baque Virado ou Maracatus de Nação Africana, surgiram particularmente a partir do século XVIII. Melo Morais Filho, escritor do século passado, no seu livro Festas e Tradições Populares, descreve uma Coroação de um Rei Negro, em 1742. Pereira da Costa, à página 215 do seu livro, Folk-lore Pernambucano, transcreve um documento relativo à coroação do primeiro Rei do Congo, realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, da Paróquia da Boa Vista, na cidade do Recife. Os primeiros registros destas cerimônias de coroação, datam da segunda metade deste século nos adros das igrejas do Recife, Olinda, Igarassu e Itamaracá, no estado e Pernambuco, promovidas pelas irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São Benedito.

Século XIX - Depois da abolição da escravatura, em 1888, os patrões e autoridades da época permitiram que surgissem as primeiras agremiações carnavalescas, formadas por operários urbanos nos antigos bairros comerciais. Supõe-se que as festas dos Reis Magos serviram de inspiração para a animação do carnaval recifense. De acordo com informações de pessoas antigas que participaram desses carnavais, possivelmente o primeiro clube que apareceu foi o dos Caiadores. Sua sede ficava na Rua do Bom Jesus e foi fundador, entre outros, um português de nome Antônio Valente. Na terça-feira de carnaval à tarde o clube comparecia à Matriz de São José, tocando uma linda marcha carnavalesca e os sócios levando nas mãos baldes, latas de tinta, escadinhas e varas com pincéis, subiam os degraus da igreja e caiavam (pintavam), simbolicamente. Outros Clubes existiam no bairro do Recife: Xaxadores, Canequinhas Japonesas, Marujos do Ocidente e Toureiros de Santo Antônio.

Século XX - O carnaval do Recife era composto de diversas sociedades carnavalescas e recreativas, entre todas destacava-se o Clube Internacional, chamado clube dos ricos, tinha sua sede na Rua da Aurora, no Palácio das Águias. A Tuna Portuguesa, hoje Clube Português, tinha sua sede na Rua do Imperador. A Charanga do Recife, sociedade musical e recreativa, com sede na Avenida Marquês de Olinda e a Recreativa Juventude, agremiação que reunia em seus salões a mocidade do bairro de São José. O carnaval do início deste século era realizado nas ruas da Concórdia, Imperatriz e Nova, onde desfilavam papangus e máscaras de fronhas (fronhas rendadas enfiadas na cabeça e saias da cintura para baixo e outra por sobre os ombros), esses mascarados sempre se apresentavam em grupos. Nesses tempos, o Recife não conhecia eletricidade, a iluminação pública eram lampiões queimando gás carbônico. Os transportes nos dias de carnaval vinham superlotados dos subúrbios para a cidade. As linhas eram feitas pelos trens da Great Western e Trilhos Urbanos do Recife, chamados maxambombas, que traziam os foliões da Várzea, Dois Irmãos, Arraial, Beberibe e Olinda. A Companhia de Ferro Carril, com bondes puxados a burros, trazia foliões de Afogados, Madalena e Encruzilhada. Os clubes que se apresentaram entre 1904 e 1912 foram os seguintes: Cavalheiros de Satanás, Caras Duras, Filhos da Candinha e U.P.M.; este último criado como pilhéria aos homens que não tinham mais virilidade.

O Corso - Percorria o seguinte itinerário: Praça da Faculdade de Direito, saindo pela Rua do Hospício, seguindo pela Rua da Imperatriz, Rua Nova, Rua do Imperador, Princesa Isabel e parando, finalmente na Praça da Faculdade. O corso era composto de carros puxados a cavalo como: cabriolé, aranha, charrete e outros. A brincadeira no corso era confete e serpentina, água com limão e bisnagas com água perfumada. Também havia caminhões e carroças puxadas a cavalo e bem ornamentadas, rapazes e moças tocavam e cantavam marchas da época dando alegre musicalidade ao evento. Fanfarras contratadas pelas famílias, desfilavam em lindos carros alegóricos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

sobre o EREH


Sei que o assunto mais importante de nossa regional(N/NE) nesse momento são as benditas informações sobre o EREH, mas acho que tem uma outra discussão também importante pra ser feita sobre ela, inclusive acho que deveria ser pauta central do EREH, que é o formato da regional. Essa na verdade é uma discussão velha nos nossos EREH's, mas apesar de tão velha não avançou nada ou quase nada nos últimos anos.

Pra não dizer que não avançamos em nada quanto a isso, vale lembrar: até o EREH de Macapá(2002, eu acho) tínhamos uma só coordenação regional, a partir daí começamos a dividir em 4 coordenações, o que foi consolidado no ENEH 2005, com a criação das 4 sub-regionais. No entanto, a divisão das sub-regionais vale apenas para as coordenações, nossos foruns(COREHI e EREH) continuam sendo um só.

É óbvio que a organização de uma regional tão grande traz imensos problemas. Muitas vezes é mais distante ir ao EREH ou COREHI do que a um ENEH ou CONEHI, a lógica das divisões regionais de facilitar a integração pela proximidade geográfica se perde completamente. Além disso, um outro motivo para a existência das regionais que é possibilitar a discussão de temas próprios de uma região, também faz com que esse formato da regional perca o sentido, já que dentro da regional N/NE existem regiões completamente diferentes entre si, os "temas regionais" do Acre ou do Amapá são completamente distintos dos de Sergipe ou Pernambuco.

Graças ao atual formato, sempre acabamos prejudicando a organização de uma ou outra região, ou seja, quando o EREH é no Nordeste pouquíssimos estudantes do Norte comparecem e vice-versa, e como a maioria é no Nordeste, os estudantes do Norte são sempre os mais prejudicados. No atual formato, os EREHs que deveriam potencializar a organização da FEMEH pela maior proximidade, no N/NE termina dificultando ainda mais.
Um saldo disso nós temos: é que geralmente as vacâncias de cargos na FEMEH são do Norte-Nordeste.

Sempre houve grande resistência a esse debate e acho que agora não é diferente, mas acho que alguns dos empecilhos para fazer este debate avançar nós estamos conseguindo superar. Um deles era fazer isto num momento de maior participação dos estudantes do Norte na FEMEH, o fato de ambos os encontros(regional e nacional) serem no Norte este ano já apontam que isto vem ocorrendo. Um outro era a necessidade dessa divisão acontecer num EREH no Norte, onde as dificuldades de organizar a FEMEH são maiores, pois bem, neste EREH em Manaus vamos ter esta oportunidade de dividir nossa regional.

Por fim, compreendo que este debate é tão antigo quanto longo, mas acho que até o EREH podemos ir aprofundando mais.

Saudações,

Anderson Rodrigo

História - UFPE

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Calouros e calouras de 2009, bem vind@s à luta!


Pois é, aqui estamos após passarmos por um longo período que misturou o temor da recuperação, a conclusão do ensino médio, cursinho, noites em claro a base de guaraná em pó, café com coca-cola... matemática, química física, 1º fase, 2º fase... ansiedade, medo, nervosismo. Ufa!!! Finalmente uma nova turma se forma (quer dizer, duas novas turmas).

Agora é só driblar as simpáticas moças com suas tentadoras ofertas de cartão de crédito e pronto, você é o mais novo estudante da Universidade Federal da Bahia.

O melhor está por vir, você estudará em São Lázaro, a unidade que possui uma das piores estruturas da universidade, se bobear, a pior do país; mas esse ano veremos a inauguração do novo pavilhão de aulas, quem sabe não teremos mais o que reclamar! De qualquer forma, temos a vantagem de possuir a melhor vista da UFBA no famoso mirante; no mais, é só aguardar e se encantar com este lugar, onde, apesar das dificuldades, você encontrará experiências incomparáveis!



A universidade que te espera...

Este ano, a universidade passará por importantes transformações. Assim como todas as universidades federais do Brasil, a UFBA aderiu ao REUNI, programa do governo federal que pretende expandir e reestruturar a universidade. Com isso, só neste primeiro ano, entrarão mais de 2000 alunos a mais que ano passado, novos cursos foram ofertados, e cursos noturnos abertos, além da nova modalidade de “graduação não linear”: os bacharelados interdisciplinares (BIs).

Porém, a aprovação desse programa não foi feita sem intenso enfrentamento entre os setores organizados dentro da universidade: a falta de democracia e diálogo foram elementos marcantes nesse processo, a prisão do Diretor Geral do DCE foi só um exemplo de como o assunto foi tratado na UFBA.

Acontece que, apesar de o REUNI trazer avanços importantes para a universidade, como a expansão de vagas, e a criação de cursos noturnos, as lacunas na política de assistência estudantil eram gritantes, além da idéia da diplomação intermediária (representada pelos BIs) ser rechaçada por grande parte da comunidade universitária.

É inconcebível que os recursos vindos do REUNI sejam direcionados para um Centro de Idiomas, por exemplo, enquanto a UFBA continua sendo a única universidade federal do Brasil sem restaurante universitário (RU); que com o aumento do número de cursos noturnos, o plano de segurança, aprovado há mais de cinco anos, ainda não tenha sido implementado - somente após uma aluna ter sido violentada e de conseqüente mobilização estudantil o plano começou a ser implementado a passos de tartaruga; não é possível que com todos os recursos vindos do programa, a creche da UFBA tenha que ser fechada, isso quando o número de mães irá aumentar consideravelmente com a abertura dos novos cursos noturnos.

Se a implementação do REUNI traz avanços importantes, e atende pautas históricas do movimento estudantil, aqui na UFBA vemos ela aumentar também as demandas da universidade, já tão precária.

Mas o que nós podemos fazer diante de quadro tão caótico? Ora, o futuro da nossa universidade a partir daqui vai depender da atuação dos diversos setores organizados dentro e fora da universidade: organização, mobilização e muita luta é o que nos aguarda. Bem vindos ao debate, bem vindos à luta, bem vindos à Universidade Federal da Bahia.


A luta por uma universidade democrática e popular!!!

A universidade pública se constitui como um espaço social privilegiado. O desafio é transformar este espaço seleto numa ferramenta que impulsione mudanças sociais. Isso só será feito com muita luta, com a organização dos setores que constroem cotidianamente a UNIVERSIDADE PÚBLICA, mas também que constroem cotidianamente os MOVIMENTOS SOCIAIS.
Por isso a importância de participar, organizar, se envolver nas lutas construídas pelo movimento de MULHERES, movimento NEGRO, MST, movimento de DIVERSIDADE SEXUAL, movimento de luta pela moradia...
A universidade precisa ter a cara do povo! Refletir a diversidade que há na sociedade!



Um pouco do que somos...

Nosso grupo começou a ser construído em 2002. Naqueles tempos, não existia uma gestão organizada do Centro Acadêmico (C.A.), não existia estatuto do curso, e toda a cultura política de movimento estudantil aqui havia se perdido. Dessa forma, alguns calouros formaram uma chapa e conquistaram legitimidade para coordenar o C.A., pondo em prática um projeto de reconstrução do movimento estudantil do curso. Processo amadurecido nesses quase sete anos.

De lá pra cá, com a entrada de novos nomes, o grupo passou por intensa renovação, instituindo, assim, uma nova dinâmica na sua atuação.

Convivemos, hoje, com problemas antigos e novos, para resolvê-los é necessário relacionar tanto questões gerais quanto locais; usar nossa memória junto às experiências trazidas por novos colegas.

Não vivemos numa ilha, acreditamos que a universidade deve ser socialmente referenciada; deve servir para além dos seus muros, e que é fundamental nos articularmos com os movimentos sociais. Somente a partir daí, poderemos pensar na construção de uma outra sociedade. Que começa claro, com a mudança da nossa realidade.


Ou é autoritário ou é democrático. Decidam-se!

A imprensa brasileira está num impasse. É que no ultimo fim de semana, a Venezuela foi mais uma vez às urnas, dessa vez para dizer “Si”: “Si, Hugo Chavéz y todos los cargos de elección popular se representen a sus cargos sin que exista un límite de mandatos”, ou seja, a reeleição ad infinito do presidente venezuelano, tão temida e repudiada pelos porta vozes da elite venezuelana foi aprovada.


A campanha contra essa emenda constitucional sempre foi muito forte aqui no Brasil, principalmente pelo desejo da direita brasileira de afastar o fantasma de Lula das eleições de 2010. Assim, o nome de Hugo Chávez não saía da boca de William Waack sem vir precedido do adjetivo “ditador”. Uma comparação com o outro “ditador” ,Fidel Castro ,era também corrente, e muitas outras tentativas de vincular o governo venezuelano a uma imagem autoritária e anti-democrática eram utilizadas para esconder os significativos avanços promovidos pela governança bolivariana.


Chavez Sí 54,36% X 45,63% Chavéz No


Mas qual era o impasse mesmo? Acontece que ao anunciar a vitória do “Sí”, no Fantástico do ultimo domingo, a equipe de jornalismo da Globo resolveu dar um enfoque um tanto estranho à matéria. Além do esperado ar triste e preocupante dos interlocutores ao anunciar a possibilidade de Chávez se reeleger quantas vezes quisesse, a reportagem queria mostrar como os eleitores venezuelanos estavam cansados de tanto ir às urnas (!?). Isso mesmo, em entrevista, as dondocas e seus maridos ricos diziam como não agüentavam mais tantas eleições: “Ele só quer aparecer”, ou “O governo está prestando mais atenção em coisas menos necessárias, como este referendo". É que entre eleições para o executivo, legislativo, plebiscitos e referendos, os eleitores venezuelanos já foram 15 vezes às urnas em apenas 10 anos! Isso mesmo, mais de uma consulta popular por ano.

De fato a elite branca golpista venezuelana deve estar cansada de tanta democracia, de tanta participação popular nas coisas do Estado, e com saudades dos tempos em que malmente se elegia seus representantes, afinal foi essa mesma elite que colocou Carmona em 2002 no poder para ser derrubado pela mobilização popular no mesmo ano (de novos esses malditos índios decidindo o futuro do país).

Mas afinal, o governo Chavéz é autoritário ou democrático demais? Poder se submeter ao voto popular quantas vezes quiser não dá indício algum de autoritarismo (até porque a oposição poderá fazer o mesmo). Por outro lado, promover mecanismos periódicos de democracia direta e participação popular, como faz o governo Chavéz, aprofundam o regime democrático de uma forma dificilmente vista nos países com as ditas democracias maduras.

Portanto, a imprensa brasileira vai ter que se decidir: se quer continuar pintando o quadro de ditador para Hugo Chavéz, vai ter que inventar outro defeito que não o de fazer muito plebiscito. Aliás, melhor nem falar que ele faz plebiscito algum, é muita democracia pra um ditador, esconde isso também. Até porque Lula é amigo de Chavéz, né, vai que ele gosta da ideia? Ai, que bom seria...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A direita sempre hipócrita e a esquerda buscando caminhos



Olavo B. Carneiro e Rodrigo Cesar

"Agora refundamos a Bolívia (...), aqui termina o Estado colonial, acabou o colonialismo interno e externo. Graças à consciência do povo boliviano, acabou o latifúndio e os latifundiários".

Discurso de Evo Morales no balcão do palácio presidencial, na praça de Armas de La Paz, após vitória no referendo constitucional.

No dia 25 de janeiro de 2009 a Bolívia realizou um referendo popular sobre a nova Constituição. Tendo ocorrido em nove departamentos (estados) do país e de comum acordo entre governo e oposição, o "sim" ao novo texto constitucional, defendido pelo governo Evo Morales, recebeu 61,43% dos votos e foi vitorioso em cinco departamentos.

Agora, depois da partida jogada com regras aceitas pelos dois lados, a direita boliviana defende o "desacato" ao referendo aprovado pela maioria da população, que aprovou, entre outras medidas, o limite de propriedade de terra em 5.000 hectares.

"Desacato, desacato, desacato!", convocou a prefeita (governadora) indígena Cuéllar, discursando no balcão da prefeitura de Chuquisaca, na praça de Armas da cidade de Sucre, feudo da oposição, onde milhares de pessoas se reuniram para festejar a vitória do "não" neste departamento. Ao mesmo tempo, na cidade de Santa Cruz, o governador Rubén Costas, considerado o líder nacional da oposição, disse a uma multidão que "o 'não' triunfou porque o projeto queria nos dividir e confrontar os bolivianos". Enquanto os presentes o aplaudiam, Costas destacou que nos departamentos opositores venceu

"o espírito democrático, para enviar uma mensagem clara, de que somos centenas de milhares de bolivianos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, como uma imensa rejeição ao projeto que emana do abuso e da ilegalidade".

Importante lembrarmos que essa postura golpista da direita não vem de agora nem é caso isolado do nosso país vizinho. Sem precisar ir muito longe – no tempo e no espaço –, temos os golpes de Estado promovidos pelos militares e apoiados pelos EUA na América Latina no período de três ou quatro décadas atrás.

Já nos anos recentes temos as continuadas tentativas de derrubar os governos populares na Venezuela, Bolívia e, com contornos distintos, no Brasil em 2005. Essas tentativas foram em boa medida impedidas pelo apoio popular aos governos e pela atuação das organizações dos trabalhadores e excluídos: associações, sindicatos, movimentos populares, entidades estudantis, partidos políticos.

A mais atual experiência boliviana e o passado de posturas golpistas não deixam dúvida sobre a hipocrisia das classes dominantes quando estas falam de democracia. Como podemos ver, faz parte da prática da direita considerar democrático e legítimo apenas a manutenção dos seus interesses. Segundo os discursos da direita boliviana, união, legalidade e democracia só podem existir quando prevalecem as suas posições e opiniões. Quando o povo lhe acompanha – como nos departamentos mais ricos da Bolívia – é considerado maduro; quando contrário aos seus interesses é acusado de inconseqüente, manipulado, massa de manobra, incapaz de decidir sobre os rumos do país.

A história demonstra a relação utilitarista das classes dominantes com a institucionalidade, a democracia liberal e o Estado burguês. Não hesitam em usar a violência – militar ou paramilitar – para defender seus interesses quando todo o aparato Estatal e institucional que funciona em seu favor não consegue mais conter o avanço das classes trabalhadoras e setores excluídos. Taticamente abrem mão das regras que criaram e consolidaram para se perpetuarem no poder. Para coroar, através dos grandes meios de comunicação no Brasil e no mundo, classificam e sistematicamente atacam governos que realizam sucessivos referendos e plebiscitos como autoritários. É a direita, sempre hipócrita.

Porém, além de conhecer bem nossos inimigos é fundamental analisar a nós mesmos, cabendo, portanto, uma pergunta: até onde oprimidos e explorados podem ou devem se apoiar nesta institucionalidade, comprometendo-se total ou parcialmente com regras que favorecem ao inimigo?

Depois da crise do chamado campo socialista, o maior acúmulo de forças obtido está localizado exatamente em parcela do poder do Estado: governos da América Latina. Ou seja, a "ironia do destino" colocou a esquerda em uma situação inusitada, complexa e paradoxal.

Inusitada, pois inédita e originada em um momento de hegemonia supostamente inquebrantável do capitalismo – aparência que inclusive contribuiu para levar militantes de esquerda à conclusão de que "se não podemos contra eles, nos resta abraçá-los". Complexa, pois envolve novos atores sociais, pautas e contradições resultantes da fragmentação do processo produtivo no neoliberalismo, além do cenário de crises e instabilidades cuja profundidade e desdobramentos são ainda imprevisíveis. Paradoxal, pois hoje, para garantir direitos sociais universais, nos apoiamos justamente no aparato estatal que funciona para manter a estrutura de classes e opressões da sociedade.

Os golpes – bem e mal sucedidos – e as sucessivas idas e vindas eleitorais da esquerda no continente nos servem de sinal amarelo, indicando a necessidade de, pelo menos, não perder o que já se conquistou. Por outro lado, depender da estabilidade democrática da burguesia para aprofundar as transformações em curso pode nos custar muito caro. Portanto, deparamo-nos com uma questão ainda sem solução teórica e política: como transitar do atual quadro de predomínio da disputa institucional – mais favorável à direita – para outro terreno mais favorável à esquerda?

A busca que "velhas toupeiras" e "grilos falantes" latino-americanos desempenham neste período histórico para encontrar novos caminhos passa pelo resgate e o estudo dos melhores ensinamentos deixados pelo movimento e pela teoria revolucionária e socialista dos séculos XIX e XX. Afinal, se mesmo com eles ainda não temos resolvidos os dilemas que nos afligem, certamente sem eles não temos a menor chance.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Inférias II


O brasileiro Luiz Vasconcelos foi o vencedor da categoria "Notícias Gerais" do World Press Photo of the Year, o maior prêmio do fotojornalismo mundial. Com esta mesma fotografia ele venceu também o prêmio Vladimir Herzog 2008.

A foto premiada foi publicada originalmente no jornal A Crítica, de Manaus (AM), em 10 de março de 2008, e mostra uma mulher indígena enfrentando um batalhão de policiais em uma disputa por terras.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O Fim da História

letra e música: Gilberto Gil
1991


Não creio que o tempo
Venha comprovar
Nem negar que a História
Possa se acabar

Basta ver que um povo
Derruba um czar
Derruba de novo
Quem pôs no lugar

É como se o livro dos tempos pudesse
Ser lido trás pra frente, frente pra trás
Vem a História, escreve um capítulo
Cujo título pode ser "Nunca Mais"
Vem o tempo e elege outra história, que escreve
Outra parte, que se chama "Nunca É Demais"
"Nunca Mais", "Nunca É Demais", "Nunca Mais"
"Nunca É Demais", e assim por diante, tanto faz
Indiferente se o livro é lido
De trás pra frente ou lido de frente pra trás

Quantos muros ergam
Como o de Berlim
Por mais que perdurem
Sempre terão fim

E assim por diante
Nunca vai parar
Seja neste mundo
Ou em qualquer lugar

Por isso é que um cangaceiro
Será sempre anjo e capeta, bandido e herói
Deu-se notícia do fim do cangaço
E a notícia foi o estardalhaço que foi
Passaram-se os anos, eis que um plebiscito
Ressuscita o mito que não se destrói
Oi, Lampião sim, Lampião não, Lampião talvez
Lampião faz bem, Lampião dói
Sempre o pirão de farinha da História
E a farinha e o moinho do tempo que mói

Tantos cangaceiros
Como Lampião
Por mais que se matem
Sempre voltarão

E assim por diante
Nunca vai parar
Inferno de Dante
Céu de Jeová

Para ouvir: venha cá!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Homo Erectus

A animação é de Rodrigo Burdman baseada num conto de Marcelino Freire. A voz é do Paulo Cesar Pereio, um homem quase de outro mundo.

Vejam até o fim, sim senhores.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Férias II

Aqui vão 3 maravilhosas sugestões pra quem anda pouco ocupado(ao contrário de mim que estou trabalhando e tenho acesso limitado aos encantos da internet):


1. Eu preferia dizer alguma coisa politizada sobre Obama, mas esse é um post meio de férias, meio de patiologia, então a sugestão vai ser simples e direta. Neste site você faz um upload de sua foto(ou do seu cachorro, sua mãe, seu vizinho) e ela fica no melhor estilo Obama Progress.




2. Todo mundo já conhece o desciclopédia, né? Segue o mesmo formato de construção e atualização do wikipédia, mas lá é proibido falar sério e dar informações completamente fidedignas. Hein? No wikipédia também é assim? Anh...


Bem, o verbete UFBa do desciclopédia é ótimo: idiota e engraçado na medida certa, apesar de ter uma predominância da galera de exatas em sua construção. Mas o verbete de história deixa muito, muito a desejar, não conseguiu me tirar um sorrisinho de canto... até o de antropologia é melhor! Então, você que tá desocupado e é minimamente engraçado e entendido de historiografia, com certeza vai conseguir fazer picuinhas mais legais. Por que não ir lá e dar uma ajeitada naquilo?


Aproveita que só tem um mês de férias.


3. Por último uma sugestão séria. Só está como sugestão de férias por que durante as aulas a gente enrola e fica sem tempo de descobrir coisas no youtube. Ah, já ia me esquecer: é a mais séria também por que é uma sugestão de Igor e isso dispensa maiores explicações.

Manifesto em Animação

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A mídia contra Battisti



"Não me parece que o Brasil seja conhecido por seus juristas, mas sim por suas dançarinas. Portanto, antes de pretender nos dar lições de Direito, o ministro da Justiça faria bem se pensasse nisso não uma, mas mil vezes". Essa ofensa ao povo e ao Judiciário brasileiros, divulgada pela agência Ansa no dia 30 de janeiro, partiu da boca do deputado Ettore Pirovano, da Liga Norte, um partido de extrema-direita famoso pelas campanhas de ódio aos imigrantes e pela esdrúxula proposta de separar o norte (rico) da Itália do resto (menos rico) do país.
O discurso cafajeste de Pirovano, com seu eufemismo de mau-gosto para se referir a outro ofício que não o de dançarina, já revela muito sobre o universo mental da coligação governista da qual ele faz parte, em companhia dos neofascistas declarados que, sob a batuta de Silvio Berlusconi, sentem novamente o gosto do poder, mais de 60 anos depois que Mussolini teve o seu merecido fim. O assunto: a decisão de Tarso Genro de conceder ao ex-extremista italiano Cesare Battisti, residente no Brasil, a condição de refugiado político, o que inviabiliza o pedido de extradição feito pelo governo italiano.
Diante do alarido que a imprensa brasileira tem feito em torno do tema (manchete principal numa das edições do Estadão!), era previsível que aquela fala destemperada de um aliado de Berlusconi aparecesse com destaque na mídia brasileira, certo? Errado. A notícia passou batida pela imprensa empresarial, que permanece, em duas semanas de intensa cobertura do tema, fiel a um padrão bem conhecido. Tudo o que se presta a reforçar as posições dos donos das empresas jornalísticas é realçado, martelado até ganhar as feições de verdade auto-evidente. Já os conteúdos que podem alimentar argumentos contrários são minimizados, relativizados ou omitidos.
O mecanismo é bem conhecido dos estudiosos da comunicação. Noam Chomsky foi quem melhor elucidou a dialética de "ênfases" e "omissões" que garante às classes dominantes a difusão das idéias do seu interesse sob o manto insípido da objetividade. Mas a postura da mídia empresarial nesse episódio também pode ser explicada a partir das teorias do sociólogo Ervin Goffman, que desenvolveu nos anos 70 o conceito do "enquadramento". Trata-se, segundo Goffman, do dispositivo interpretativo mais geral que envolve os conteúdos específicos. Opera de uma forma sutil, como uma moldura invisível ao redor dos fatos. Uma vez estabelecido, garante que o juízo do receptor se incline, automaticamente, para o enfoque escolhido pelo emissor.
A maneira como essa moldura foi construída no caso Battisti daria uma tese de doutorado. A Folha de S. Paulo, por exemplo, se refere ao ex-militante como "terrorista", desprezando a existência pacata que ele mantém há 30 anos. O governo italiano, em contrapartida, aparece na mídia brasileira como uma entidade neutra, imune às paixões políticas. O nome de Berlusconi raramente é mencionado. As motivações do ministro Tarso Genro são pintadas como "ideológicas", como se as autoridades italianas ou os próprios jornais atuassem à margem das ideologias.
Nesse esquema, a imagem simpática da Itália se converte em capital simbólico para legitimar decisões tomadas pelo Judiciário daquele país no contexto da turbulência política da década de 70. Qualquer que seja a verdade sobre a participação de Battisti nos crimes a ele atribuídos, é incontestável que não se tratava de delinquência e sim de ações políticas, como reconheceu o ex-presidente Francesco Cossiga ao se referir a ele como "um subversivo". Isso, por si só, já justificaria a decisão de Genro.
A ultra-esquerda da época, com todos os erros, tampouco tinha como inimigo um estado de Direito "normal", mas um regime democrático degenerado, dirigido por um primeiro-ministro, Giulio Andreotti, com ligações mafiosas mais do que provadas. Leis assumidamente "de exceção" foram adotadas no combate à esquerda armada e o Estado italiano recorreu, sim, a violações aos direitos humanos, inclusive à tortura, como denunciou a Anistia Internacional.
Tudo isso é história, mas a imprensa, ainda assim, insiste em desprezar o contexto tenebroso em que se deu a condenação de Battisti. Na descrição do filósofo Norberto Bobbio, a Itália se achava submetida a um "criptogoverno", em que as autoridades "agem na sombra em articulação com os serviços secretos". Um cenário de "mistérios", de verdades encobertas, de "trevas" que "não foram dissipadas". A citação, que a mídia não teve a gentileza de compartilhar com os leitores, está no livro O Futuro da Democracia e faz parte do arrazoado de Genro.
Por fim, uma pergunta básica, incontornável: qual é a motivação do governo italiano? Por que tanto empenho em botar as mãos num personagem tão inofensivo, depois de tanto tempo? A resposta, ou parte dela, está na conjuntura doméstica da Itália, marcada pela crise e por uma onda de protestos em que se sobressai um vigoroso ativismo estudantil. Berlusconi e seus aliados reagem à ascensão de uma esquerda não-domesticada sacudindo o espantalho dos "anos de chumbo".
A histeria em torno do caso Battisti, manipulado para criar uma anacrônica associação entre os "radicais" de ontem e de hoje, nada tem de irracional. Ao contrário, dá respaldo a um discurso em que o prefeito fascista de Roma, Gianni Alemanno, acaba de declarar que "o movimento estudantil italiano (seria) dirigido por 300 criminosos da universidade La Sapienza".
Quanto às motivações da imprensa tupiniquim, a explicação é mais simples. A oposição conservadora, diante da patética escassez de argumentos para 2010, quer incluir no seu arsenal de campanha a denúncia do "apoio a um terrorista". Rende votos, supostamente, e ajuda a manter acuados os setores de esquerda no governo Lula e no PT. Tal como espaguete ao sugo e queijo parmesão, a agenda repressiva do governo Berlusconi combina perfeitamente com os interesses do conglomerado PSDB-DEM-mídia-banqueiros-agronegócio. Uma direita ajuda a outra.

Igor Fuser é jornalista
Artigo publicado no www.operamundi.net

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Venezuela - 10 anos de revolução bolivariana!


No dia 2 de Fevereiro a Venezuela completou 10 anos desde a primeira posse do presidente Hugo Chávez em 1999, dando início a uma experiencia inédita na América Latina de enfrentamento às políticas neoliberais e de recolocar na agenda política do continente a atualidade e necessidade do socialismo.

Parabéns, Venezuela!

Viva a Revolução Bolivariana!