quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Rapidinhas

Lembra daquele vídeo sobre aborto "vai pensando aí"?
Pois é, lançaram um site interativo com o mesmo tema. Pensa aí e deixe sua opinião lá.

Esse mesmo instituto que lançou o vídeo, o IPAS, produz uma revista eletrônica mensal de ótima qualidade. Nesse mês tem um relatório sobre as mulheres processadas pela prática do aborto em Mato Grosso do Sul, tem um Dossiê sobre a situação do aborto inseguro na Bahia e outras discussões necessárias.

Ainda sobre o aborto aqui vai o trailler de um documentário chamado Fim do Silêncio, ele traz depoimentos de várias mulheres que passaram por essa experiência.




Bom proveito.

Dez conselhos para os militantes de esquerda


Pois bem, Feliz Ano Novo a todos, se preparem pra luta e vamos juntos com firmeza. E também com a tal da ternura ; )
Aqui vão nossos (de frei Betto) votos.

1. Mantenha viva a indignação.

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda a encara como uma aberração a ser erradicada.

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.

2. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.

3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.

O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.

4. Seja crítico sem perder a autocrítica.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros (as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco no olho do outro, mas não a trave no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos (as) companheiros (as).

5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.

6. Seja rigoroso na ética da militância.

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo: a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.

Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.

O verdadeiro militante, como Jesus, Gandhi, Che Guevara, é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.

7. Alimente-se na tradição da esquerda.

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, “voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.

8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.

9. Defenda sempre o oprimido, ainda que, aparentemente, ele não tenha razão.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.

Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.

10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes, deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.

Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar, assim como Jesus amava, libertadoramente.

Frei Betto

Feliz 2009, companheirada!

sábado, 27 de dezembro de 2008

A dor da gente saiu no jornal

Se Chico Mendes fosse vivo, certamente estaria na internet divulgando suas idéias e pedindo apoio à causa da floresta amazônica e das populações tradicionais e extrativistas que nela vivem. Ele tinha consciência aguda do papel da mídia para o movimento social. Se mais pessoas soubessem o que acontecia lá no Acre, se tivessem oportunidade de conhecer o pensamento dos seringueiros, talvez houvesse mais apoio para evitar que o dano irreversível acontecesse, com a derrubada da floresta.

Na época, a maior parte da imprensa de Rio Branco era muito hostil. Na maioria das vezes, Chico era tratado como intransigente inimigo do progresso, enquanto a situação real mostrava acelerada destruição ambiental e o deslocamento massivo de trabalhadores extrativistas para a periferia das cidades.

Chico procurava jornalistas que poderiam ter abertura para divulgar nosso lado, entender a resistência à motoserra, sensibilizar pessoas do Acre e de fora. Visitava redações, escrevia cartas e as levava pessoalmente. Eu achava aquilo muito constrangedor e me doía quando os jornais soltavam notinhas tripudiando.

No final de 1988 me preparava para ir a São Paulo tentar um tratamento contra a hepatite B. Antes de viajar, passei alguns dias em Xapuri, hospedada na casa do Chico, como sempre fazia quando estava lá. Ainda me emociono quando penso na nossa relação de amizade, confiança e fraternidade. Naquela casa tão pequena, de um único quarto, eu era abrigada num colchonete no chão, junto das crianças, ao lado da cama de Chico e de Ilzamar. Na maioria das vezes, na verdade, quem ia para o chão era o Chico e eu e Ilza ganhávamos o conforto da cama.

Na minha partida para Rio Branco, de onde seguiria para São Paulo, ele foi me acompanhar até a rodoviária. Fomos caminhando pela rua e puxou uma conversa triste e angustiante: "Desta vez não tem mais jeito. Acho que os cabras vão me pegar". Tentei achar uma saída: "Por que você não fala com o pessoal lá de Rio Branco pra denunciar nos jornais?". Ele respondeu de uma tal forma que me fez perceber o quanto estava desanimado e encurralado: "Não adianta, eles dizem que estou me fazendo de vítima, que quero posar de mártir pra me promover. Tem até jornalista que faz piada". Continuamos andando num silêncio que nenhum dos dois sabia como romper. Senti que ele estava perdendo as esperanças na insistente militância para dar visibilidade ao movimento seringueiro e buscar aliados.

Fora do Acre tínhamos algum oxigênio. Os amigos ambientalistas e admiradores do Chico denunciavam, acionavam as autoridades federais, mas no estado o ambiente institucional era de violência e desmando, misturado a interesses que viam a derrubada da floresta e sua transformação em pastos e fazendas como a forma mais rápida de lucrar com a "colonização" da Amazônia.

Cheguei a São Paulo, fiquei na casa de parentes, em Ribeirão Pires. No dia 22 de dezembro de 88, fui à primeira consulta com o naturopata Adauto Vilhena e saí bem animada. Às dez da noite, o Gilson, primo de meu marido Fábio, ligou de Rio Branco: "Marina, fica calma". Eu respondi: "Mataram o Chico Mendes". Ele perguntou: "Como é que você sabe?". Desliguei o telefone porque não conseguia dizer mais nada.

Fábio e eu demoramos a conseguir dinheiro para as passagens de volta, mas ainda chegamos a tempo de assistir a missa de sétimo dia. A notícia tinha saído na primeira página do New York Times e o colunista Tom Wicker dissera que os tiros que mataram o Chico eram "disparos contra toda a humanidade". Só então a mídia brasileira despertou para a importância do fato e para o significado daquele seringueiro e de sua luta. Os telefones do PT e do sindicato não paravam de tocar. Eram jornalistas do país inteiro - além da mídia estrangeira - querendo informações sobre o Chico. Tudo se passou como um movimento especular. Só quando nos vimos refletidos no espelho do mundo desenvolvido é que reconhecemos quem nos era de enorme valor.

Se não tivesse saído no New York Times, se não tivesse chegado a Rio Branco uma comissão de parlamentares americanos liderada por Al Gore, para se solidarizar com o movimento seringueiro e a família de Chico, talvez a morte dele tivesse sido apenas mais uma no rol dos assassinatos de lideranças de movimentos sociais que eram - e continuam sendo - rotina sinistra na Amazônia. No próprio Acre, Wilson Pinheiro, a maior liderança extrativista antes de Chico, também foi assassinado. E assim como ele, Ivair Higino, Calado, Elias, e tantos outros.

Com Chico foi diferente talvez por circunstâncias históricas, mas muito porque ele tinha um jeito único de entender o movimento. Sempre como ponte para uma aliança, sempre como forma de atrair diferentes pensamentos e experiências, desde que convergissem no essencial, nos valores. Nisso, foi além de seu tempo. De homem simples, introspectivo, pensativo, transformou-se numa referência impregnada em tudo o que aconteceu depois em termos da relação da sociedade com a proteção ambiental e do significado da Amazônia e de seus povos para o Brasil e para o mundo.

É incrível como temos dificuldade de reconhecer nossos próprios tesouros até que alguém nos diga: "isso não é pedra, é ouro." Primeiro um olho externo vê e nós nos vemos através dele. O bom é que, 20 anos depois, parece que temos nossas próprias lentes sobre a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica e todos os nossos biomas. Respeitamos mais as populações tradicionais, temos mais convicção sobre a importância do Brasil e sabemos que somos uma potência ambiental. Não é o suficiente para revertermos distorções históricas, mas já é um bom começo.

E Chico Mendes antecipou essa visão ao perceber que, na Amazônia, o caminho correto estava na junção da luta por uma sociedade mais justa com a defesa do meio ambiente e do uso respeitoso dos recursos naturais. Ele conseguiu viver e sintetizar dois mundos que naquela época pareciam ter pouco a ver um com o outro: o do movimento social de esquerda, focado na luta sindical pela reforma agrária, e o do ambientalismo, com sua visão global de processos ecológicos e de proteção dos ecossistemas.

O Chico foi apropriado pela sua causa, assim como Luther King, Gandhi, Mandela o foram pelas suas. E todos tiveram em comum a capacidade de escancarar novas maneiras de ser e de agir, projetando o futuro na prática. Acredito em valores morais e universais e também que eles são objeto de descoberta tanto quanto as fórmulas científicas. Só que são descobertos em nosso coração em primeiro lugar, depois vêm para a razão.

As pessoas que fazem a diferença no mundo são aquelas que se orientam pelo coração e por valores, não aquelas que simplesmente fazem coisas. Sem isso, ninguém suportaria trinta e tantos anos em uma cadeia, como o Mandela, e sairia de lá íntegro, pronto para retomar a sua luta. E certamente também foi por algo muito maior que Chico Mendes recusou o convite para refugiar-se nos Estados Unidos como forma de se proteger das ameaças de morte. Ele respondeu que seu lugar era "com os companheiros".

Os assassinos de Chico Mendes pretendiam desconstituir o movimento social, dar o tiro de misericórdia na resistência dos seringueiros, acabar com as incipientes tentativas de proteger a integridade da floresta. Não deu certo. Vinte anos depois, Chico continua "com os companheiros", que carregam em si os ensinamentos e os valores do seu grande líder e os espalham por onde passam, nas suas ações, na suas vidas, nos seus sonhos.


Marina Silva é historiadora, senadora pelo PT do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

Yo no digo "What the fuck?!", digo "Oxente!"... Cabron!!!

Nos últimos dez anos a América Latina pode vivenciar a chegada de setores progressistas e de esquerda aos governos de diversos países do nosso subcontinente. A política aplicada por esses governos rompe em grande medida com a lógica neoliberal e pró-imperialista adotada até então nesses países e se volta para a integração continental, rejeitando a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), fortalecendo o Mercosul (com a entrada da Venezuela como país associado), construindo a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas, constituída por Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua,Dominica e Honduras, com a possibilidade de entrada do Equador e São Vicente e Granadinas), criando a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), a pretenção de criação do Banco do Sul, etc.

É nesse sentido que estará acontecendo quatro cúpulas de chefes de Estado e de governo de países da América Latina e do Caribe na Costa do Sauípe apartir do dia 15 deste mês.

Nos dias 16 e 17, ocorrerá a I Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (Calc). Está é a primeira vez que chefes de Estados de toda América Latina e Caribe se reúnem num só evento sem terem sido chamados por uma entidade externa.

No dia 15, a 36ª Cúpula do Mercosul vai reunir Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e Venezuela, países membros, além de Chile, Bolívia, Cuba e México, convidados. Antecedendo a Cúpula do Mercosul, o Foro Consultivo de Cidades e Regiões do Mercosul se reúne, sob a presidência do governador Jaques Wagner.

O Grupo do Rio, criado em 1984 para buscar soluções diplomáticas aos conflitos nas Américas, reúne os 18 países integrantes na Bahia para recepcionar Cuba, seu mais novo integrante.

E a Unasul reunirá todos os países da América do Sul para debater a crise econômica.

Além das quatro cúpulas de chefes de Estado e de governo, estarão ocorrendo aqui em Salvador nesse fim de semana, 13 e 14, no Centro de Convenções, a Cúpula dos Povos Latino-Americanos, onde representantes de movimentos sociais da América Latina e Caribe se reúnem para discutir diversos temas como meio ambiente, direitos humanos, segurança alimentar, etc. para formar a base da Declaração dos Povos da América Latina e Caribe, que será encaminhada aos Chefes de Estado reunidos na Costa do Sauípe.

Dias 14 e 15, acontece a Cúpula Social do Mercosul, no Hotel Pestana.

Dia 15, na reitoria da UFBA, se reúne a Cúpula Sindical da América Latina (Encontro das Centrais Sindicais), em torno do tema "Integração Produtiva e Trabalho Decente", que culminará com uma marcha até a Praça Municipal.

E finalmente, dias 15 e 16 haverá o Encontro dos Partidos de Esquerda do Cone Sul, em local ainda a ser definido.

E viva la Integración...mas com sotaque baiano!!!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Vai pensando aí.

Tá aqui um vídeo curtinho - tem só 34 segundos- que pode e deve
te deixar pensando por bastante tempo.
Ele foi produzido pelo IPAS, uma ONG internacional,
no Brasil há 34 anos, que atua com o objetivo de
reduzir o número de mortes associados a abortamentos;

expandir a capacidade da mulher no exercício de seus
direitos de natureza sexual e reprodutiva; e melhorar
as condições
de acesso a serviços de saúde associados
à reprodução,
inclusive aos serviços de abortamento
legal em condições
adequadas.

ó o sítio: www.ipas.org.br

ó o vídeo:
V

Balanço da Gestão 2007-2008

Um ano se passa...e estamos no mesmo lugar!



Nos próximos dias, o curso de História atravessará mais um processo eleitoral. Novamente, diferentes projetos e propostas serão postos em debate. Em 2007, a chapa Voz Ativa venceu as eleições e dirigiu o Centro Acadêmico até esse ano. Para nós, é hora do acerto de contas, da crítica; necessário agora fazer um balanço do movimento estudantil de história, só assim não transformaremos em regra, os erros cometidos pela atual gestão. Tempos ruins, são a melhor hora para reflexão.

Quando fizemos parte do C. A., até 2007, temos certeza que contribuímos muito para o movimento estudantil de São Lázaro, no entanto, também enfrentamos problemas e acumulamos muito desgaste. Através da crítica da nossa atuação, o "Voz Ativa" ganhou a eleição, prometendo democracia na entidade e independência política. Na nossa opinião, a última gestão do C.A foi incapaz de cumprir o que propôs, na verdade, o que vimos foi uma gestão apagada, distante, incapaz de representar os estudantes.

Percebemos dois problemas principais, o primeiro é do ponto de vista organizativo. Poucos imaginariam que a política de comunicação do C.A fosse tão falha. Não vimos sequer um jornal Artesanal; o Circuladô, antes de edição semanal, foi visto pouquíssimas vezes pelo pátio da faculdade; as passagens em sala foram pouquíssimas, nesse semestre, quase nenhuma. O debate setorial (LGBT, reparação racial, mulheres) que tanto avançamos em nossas gestões ficou absolutamente parado, se restringindo a um mural que poucos leram.

E a nossa faculdade? São Lázaro continua a nos oferecer péssimas condições de estudo, vimos o fórum de DA's e CA's - principal espaço de organização dos estudantes da FFCH - se desarticular completamente e se tornar ainda mais estranho aos estudantes. A biblioteca voltou encerrar expediente ás 14h, quando antes fechava às 16h; o preço do restaurante aumentou novamente; e o plano de segurança da faculdade tem sido implementado sem que seja discutido com a comunidade universitária.

Mas temos aqui muito mais de que um problema de gestão, na raiz de tudo, há um erro de concepção, portanto, político. Democratizar a entidade é muito mais do que tomar decisões em assembléia, uma gestão tem de ter opinião, ter cara própria, tem de expor aquilo que pensa mesmo que surjam divergências; mas é preciso estimular o debate, não é o que vimos no último período. Ao contrário, vimos uma gestão sem projeto e anti-democrática, onde estavam as decisões tiradas em assembléia? O curso foi consultado sobre o ENADE? O que o Centro Acadêmico votou nos conselhos de entidades de base? Estatutariamente o C.A. deve ter reuniões ordinárias, quantas vezes o C.A. se reuniu nesse ano? Três ou quatro. E o episódio das eleições para representantes estudantis? O Centro Acadêmico lançou carta apoiando alguns estudantes, e preterindo outros, exemplo de aparelhamento.

Todos sabem que o PSTU fez parte da última gestão, sabem também das divergências históricas que temos com eles. Mas será o PSTU o culpado por todos os erros da gestão "Voz Ativa"? Não. O pecado original foi a forma despolitizada com que a chapa foi construída e se legitimou perante os estudantes; a mesma facilidade encontrada para criticar gestões passadas não se viu para construir algo propositivo para o curso; conduzir uma gestão de Centro Acadêmico é mais difícil do que parece, e é preciso muito mais do que boa vontade para fazer movimento estudantil. Só isso explica a fragmentação do grupo. De certo, que o PSTU muitas vezes tentou implementar sua política sem a devida consulta aos estudantes, mas todos que participaram do “Voz Ativa” são igualmente responsáveis pelos seus erros. Se o PSTU errou é porque deixaram ele errar, a indiferença, na política como na vida, é o mesmo que cumplicidade.

Em 2007, muitos acreditaram que ser mais ou menos "independente", garantiria uma gestão democrática, não foi isso que aconteceu. Na verdade, se tiramos uma lição disso é que não vamos resolver os problemas do movimento estudantil com saídas fáceis. O que precisamos é rediscutir a fundo nossos métodos, precisamos aguçar nosso espírito crítico e ter capacidade de entender que soluções reais não caem do céu, ou brotam da terra; mas sim, com planejamento e auto-crítica.

Bem vindas(os) ao debate.

Atitude e Resistência é... Emily Laurentino (2006); Marcelo Tuk, Rafael Pedral, Rodrigo Itororó, Filipe Lorenzo (2007); Eliane Gonzaga “Ane”, Alan Passos, Ana Raquel Cerqueira, Emanuela Santos, Darlan Gomes, Breno Ferreira, Caroline Copque (2008); Igor Costa, Caio Fernandes, Carolina Mendonça, Adalbério Ipirá,Eduardo Ribeiro, Ediana Mendes, Kleidiane Santiago (2005)

Esse é o primeiro dos textos da nossa campanha para a eleição do centro acadêmico de história Luiza Mahin - gestão 2008-2009. Aos poucos publicaremos todos os textos dessa campanha.