terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Ou é autoritário ou é democrático. Decidam-se!

A imprensa brasileira está num impasse. É que no ultimo fim de semana, a Venezuela foi mais uma vez às urnas, dessa vez para dizer “Si”: “Si, Hugo Chavéz y todos los cargos de elección popular se representen a sus cargos sin que exista un límite de mandatos”, ou seja, a reeleição ad infinito do presidente venezuelano, tão temida e repudiada pelos porta vozes da elite venezuelana foi aprovada.


A campanha contra essa emenda constitucional sempre foi muito forte aqui no Brasil, principalmente pelo desejo da direita brasileira de afastar o fantasma de Lula das eleições de 2010. Assim, o nome de Hugo Chávez não saía da boca de William Waack sem vir precedido do adjetivo “ditador”. Uma comparação com o outro “ditador” ,Fidel Castro ,era também corrente, e muitas outras tentativas de vincular o governo venezuelano a uma imagem autoritária e anti-democrática eram utilizadas para esconder os significativos avanços promovidos pela governança bolivariana.


Chavez Sí 54,36% X 45,63% Chavéz No


Mas qual era o impasse mesmo? Acontece que ao anunciar a vitória do “Sí”, no Fantástico do ultimo domingo, a equipe de jornalismo da Globo resolveu dar um enfoque um tanto estranho à matéria. Além do esperado ar triste e preocupante dos interlocutores ao anunciar a possibilidade de Chávez se reeleger quantas vezes quisesse, a reportagem queria mostrar como os eleitores venezuelanos estavam cansados de tanto ir às urnas (!?). Isso mesmo, em entrevista, as dondocas e seus maridos ricos diziam como não agüentavam mais tantas eleições: “Ele só quer aparecer”, ou “O governo está prestando mais atenção em coisas menos necessárias, como este referendo". É que entre eleições para o executivo, legislativo, plebiscitos e referendos, os eleitores venezuelanos já foram 15 vezes às urnas em apenas 10 anos! Isso mesmo, mais de uma consulta popular por ano.

De fato a elite branca golpista venezuelana deve estar cansada de tanta democracia, de tanta participação popular nas coisas do Estado, e com saudades dos tempos em que malmente se elegia seus representantes, afinal foi essa mesma elite que colocou Carmona em 2002 no poder para ser derrubado pela mobilização popular no mesmo ano (de novos esses malditos índios decidindo o futuro do país).

Mas afinal, o governo Chavéz é autoritário ou democrático demais? Poder se submeter ao voto popular quantas vezes quiser não dá indício algum de autoritarismo (até porque a oposição poderá fazer o mesmo). Por outro lado, promover mecanismos periódicos de democracia direta e participação popular, como faz o governo Chavéz, aprofundam o regime democrático de uma forma dificilmente vista nos países com as ditas democracias maduras.

Portanto, a imprensa brasileira vai ter que se decidir: se quer continuar pintando o quadro de ditador para Hugo Chavéz, vai ter que inventar outro defeito que não o de fazer muito plebiscito. Aliás, melhor nem falar que ele faz plebiscito algum, é muita democracia pra um ditador, esconde isso também. Até porque Lula é amigo de Chavéz, né, vai que ele gosta da ideia? Ai, que bom seria...

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