domingo, 27 de maio de 2007

ME Nacional-2006

ATITUDE e RESISTÊNCIA no ME Nacional

A União Nacional dos Estudantes vive uma de suas maiores crises de legitimidade frente à comunidade estudantil. A entidade representativa do movimento estudantil brasileiro alcança sete décadas de história numa conjuntura política delicada de divisão da esquerda e descenso da mobilização social.

Para encontrar as possíveis causas da crise da UNE sem correr o risco de fazer análises descoladas da realidade e do momento político atual que vivemos, deve-se compreender a luta estudantil como um setor dentre tantos outros movimentos sociais que enfrentam o mesmo refluxo proveniente de quase 20 anos de ofensiva do neoliberalismo e de sucessivos ataques para com suas bandeiras e organização.

Para além de visualizar o pano de fundo vivido pelos movimentos sociais no Brasil, é preciso apontar também que especificidades são próprias da organização estudantil e de que maneira estas determinam ou ajudam a explicar a crise do movimento e de suas representações.

Dentre as causas específicas, podemos citar aquelas estruturais, ou seja, problemáticas que são e sempre serão próprias do ME; e aquelas conjunturais, que dizem respeito ao momento que vive a UNE e a base social que a compõe.

O caráter transitório da militância política de um estudante que, diferentemente de outros movimentos, atua durante somente três ou quatro anos em média, torna a luta estudantil refém da conjuntura mais do que qualquer outro setor do movimento social. Sempre foi assim e sempre será. Se os dias são de dificuldade para a mobilização na sociedade em geral, isso atinge ainda com mais força o ME.

Outro fator que se pode classificar como próprio do ME é o seu caráter policlassista que dificulta muito a organização em massa das(os) estudantes em torno de um projeto de esquerda e que aponte para a superação do neoliberalismo e de suas investidas na educação.

Só isso já faz com que o movimento estudantil tenha uma dificuldade enorme de se organizar ou ao menos de se manter organizado por um período longo.

No entanto, o diagnóstico completo da atual crise (que há muito já deixou de ser uma simples crise de direção) só é possível fazer apontando os elementos conjunturais vividos ME nos últimos anos.

Numa tentativa de síntese desses elementos, deve-se no mínimo apontar alguns aspectos e momentos decisivos sem os quais não se pode compreender a falta de legitimidade que hoje abala a UNE e a luta estudantil.

O mais significativo deles, como não poderia deixar de ser, é a postura adotada ao longo dos últimos anos pela direção majoritária dentro da entidade, leia-se UJS/PCdoB.

Desde que assumiu a maioria absoluta nos correntes processos de disputa da direção da UNE, o PCdoB opera um aparelhamento cada vez mais sistemático no sentido de mantê-la sempre devidamente submetida às suas intervenções e interesses dentro do ME.

Desse fator (o aparelhamento), a UNE sofreu três outros golpes sucessivos que colocam em xeque a sua representatividade.

Primeiro, a disputa ideológica necessária que devia ser encabeçada pela entidade para transformações reais dentro da juventude hegemonizada por valores do mundo capitalista, cada vez mais foi sendo substituída pelo ‘senso comum’ aplicado pela UJS. As teses apresentadas pelo PCdoB nos espaços da UNE há tempos não consegue fazer uma análise séria sobre a importância da luta estudantil por uma sociedade justa e igualitária que nunca poderá ser construída nos marcos do capitalismo. Disso, a intensificação da desmobilização dos estudantes foi a mais grave conseqüência.

O segundo golpe sofrido pela entidade veio depois da eleição de 2002, quando o aparelhamento da direção majoritária foi potencializado. Dessa vez para evitar ou impedir a construção de qualquer mobilização que se manifestasse mais criticamente a determinados erros cometidos pelo Governo Lula, visto que o PCdoB apóia e compõe este governo desde seu início. A atuação da UJS a partir daí dentro da UNE tornou-a ainda mais inoperante.

O último e mais recente golpe sofrido pela entidade maior representativa de nossa organização veio em parte como conseqüência da própria inoperância da entidade, em parte por uma avaliação equivocada de algumas forças políticas que, diante dessa inoperância, desistiram de lutar por uma UNE combativa e referenciada na base. Apostam agora numa alternativa por fora dela.

O equívoco histórico desses companheiros e companheiras não é de responsabilidade unicamente deles. Umas das grandes responsáveis pelo desencadeamento do divisionismo é a própria UJS.

Mas os setores que hoje tentam construir a chamada Conlute não compreendem que a solução para a reorganização estudantil está além da criação de uma nova direção. Se assim não fosse, esses setores já teriam conseguido alcançar alguma legitimidade entre aqueles e aquelas que negam ou não reconhecem a UNE. O que não aconteceu e não vai acontecer porque aqueles e aquelas estudantes que hoje não reconhecem a UNE, em sua esmagadora maioria também não reconhecem a Conlute, porque simplesmente não reconhecem a própria importância da luta e da organização em uma entidade combativa.

O problema do não ‘reconhecimento’ das entidades não se dá simplesmente porque suas direções são “pelegas”, ou porque não operam a luta. A base estudantil (e aqui entenda-se não somente a base estudantil organizada, mas também aquela que não se organiza) não tem perspectiva de mudança. Em sua grande maioria não ocupa nem as assembléias de seu curso, e muito menos acreditam numa articulação nacional que possa servir de instrumento de luta por uma educação pública e de qualidade.

Por outro lado, a UNE ainda tem potencial e base (ainda que despolitizada) para se tornar uma entidade comprometida com a luta. O PCdoB se utiliza do discurso vazio para obter ampla maioria e manter a entidade sob seu controle. Politizar as discussões e análises de conjuntura e disputar essa base de estudantes que hoje comparece às instâncias políticas da UNE unicamente para ir aos shows e levantar o crachá no último dia para as proposições da UJS tem que ser uma luta de todos os grupos críticos e cientes do difícil momento de desmobilização que passamos. Inclusive aqueles que hoje tentam construir a luta por fora.

O grupo ‘Atitude e Resistência’ acredita que não precisamos de novas direções. Precisamos solucionar nossos problemas pela base do movimento e conseguir reerguer aquela que sempre foi o instrumento de luta de cada estudante no país. A UNE somos nós. Nossa força, nossa voz.

ATITUDE e RESISTÊNCIA é Emily (2006), Carol, Dudu, Caio, Igor Costa, Elisa, Ediana, Michael, Andréia e Ipirá (2005), Rafael e Igor Almeida (2004), Gabriel (2003), Alex, Wesley, Daniel e Denise (2001)

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