domingo, 27 de maio de 2007

Eleições 2006 e os difíceis caminhos para a esquerda




Depois de três tentativas frustradas nas urnas, em 2002, Lula foi finalmente eleito Presidente do Brasil. Dessa vez não seria apenas mais um dentre tantos que já ocuparam tal posto. Lula seria o primeiro chefe de estado com viés de esquerda do país – o primeiro presidente verdadeiramente brasileiro – afirmava prontamente Marilena Chauí.

Apesar dessa representativa vitória , o Lula eleito não era mais o mesmo daquele que quase derrubou Collor em 89, nem o PT, que embora ainda seja o maior partido e de mais apego popular, apresentava-se tão vermelho quanto antes, tais características já estavam expostas durante o processo eleitoral; diversos fatores já demonstravam o quanto "Lulinha paz e amor" era, na verdade, um recuo no programa de esquerda.

O fato de se ter José Alencar como vice na chapa, sob um discurso de pacto social; a carta aos brasileiros, recebida com louvor pelo mercado financeiro, a nomeação de ministros da direita como Roberto Rodrigues e mais além, as alianças no Congresso justamente com aqueles trezentos picaretas, todos esses dados, já nos oferecem substância para dizer que o Governo Lula está muito longe de ser aquela mudança que esperávamos e ainda queremos.

Como se não bastasse tais fatores, o Governo Lula sofreu graves denúncias de corrupção – uma dúzia de deputados do PT e de sua base "aliada" foram ou estiveram a vias de serem cassados pelo Parlamento.

Em meio dessa situação, deputados que deixaram ou foram expulsos do PT fundaram a alguns meses, um novo partido que, com discurso de reorganização da esquerda e combate à corrupção, apresentaram uma candidatura para Presidente, encabeçada por Heloísa Helena.

No entanto, o Governo Lula apresenta contradições, apresenta ao mesmo tempo traços tanto da esquerda, quanto da direita. O mesmo presidente que nos coloca essa reforma universitária e a reforma da previdência , é o mesmo que avança enormemente nas políticas para população negra com o Estatuto da Igualdade Racial, e constrói o Fundeb, rearticulando o ensino básico no país. Tanto é, que boa parte dos movimentos de luta, como movimento Negro e o MST vêem nesse governo a possibilidade de diálogo e de terem suas reivindicações ouvidas.

Lula não indicou Henrique Meirelles (um ex-tucano) para Presidente do BC por acaso, assim como FHC jamais indicaria João Pedro Stedile para ministro da reforma agrária. Tudo isso se deve a uma disputa política de base que acontece dentro do PT e nos movimento sociais em que ela atua.

Acontece que grupos políticos, mais inclinados ao centro ou a direita compuseram desde 95, o chamado Campo majoritário na direção do partido, e implementaram sua política de ceder espaço a burguesia dentro do governo,e vê com bons olhos a aliança com a direita. Ano passado, esse Campo Majoritário foi derrotado nas eleições do PED, o que nos permite pensar num avanço, para um futuro Governo Lula.

Mas então, qual será o lugar dos revolucionários nas próximas eleições? Disputando avanços na candidatura Lula, ou se inclinando para a frente PSOL, PSTU, PCB?

O grupo "Atitude e Resistência" acredita na primeira alternativa. Não porque queiramos polarizar com companheiros ex-militantes do PT. Nós vemos com simpatia o fortalecimento de partidos de esquerda no território eleitoral. Mas também temos com
bastante firmeza na nossa análise que os nossos inimigos são a direita, tanto a que está dentro do Governo Lula, quanto aquela que se apresenta na candidatura Alckmin , o que há de mais reacionário na política brasileira.

Recentes declarações dos diversos lados da Frente, nos permite ser pessimista quanto a sua chapa. O posicionamento da presidenciável contra o aborto, o discurso purista e quase reacionário de defesa da moralidade, as severas divergências entre o candidato a vice-presidente César Benjamim (ex- Consulta popular) e o PSTU nos oferece os seguintes diagnósticos: 1) a candidatura Heloísa helena não tem representado um acúmulo real para a esquerda. 2) aqueles grupos que concordavam quando denunciavam o Governo Lula não necessariamente convergem na construção de um programa de unidade, ou seja, tem faltado em propostas concretas. 3) Uma candidatura alternativa, não se traduz em ganho político, caso não seja construída por um movimento de massas. 4) A conjuntura nacional não nos permite uma reorganização das esquerdas, de baixo para cima, tendo em visto a crise da maioria dos movimentos sociais.5)a vacilação em dizer quem apoiará num segundo turno entre Lula e Alckmin, a fuga das respostas sobre a possibilidade de aliança entre PT, PC de B e outros partidos para conquista governabilidade e; sobre a atuação desses grupos caso não cumpram a cláusula de barreira é demonstração evidente de falta de organicidade política.

Tal qual se afirma que existe uma falsa polarização entre Lula e Alckmin , basta ver o crescimento de HH nas pesquisas, reforçado pelo apoio de Garotinho. Podemos afirmar que também é falso o discurso que diz serem acríticos os que apostam na candidatura Lula, ou que defender essa opção é concordar com os erros que o governo aprova.

A postura central para a esquerda não deve ser escolher entre a candidatura um pouco mais a esquerda, nem resumir tudo votando em Lula apenas por medo de Alckmin. As duas perspectivas tem horizonte muito estreito e reiteram a política do menos pior. O debate deve girar em torno de qual a possibilidade real de se construir um projeto socialista, fruto de amplos debates e inserção nos movimentos sociais.

E tendo em vista as atuais alternativas, numa eventual vitória de Alckmin, o grupo "Atitude e Resistência" estará em todos os espaços, fazendo o debate ideológico e programático e unificando as esquerdas para se opor a tal governo. Numa possível vitória de Heloísa Helena, certamente estaremos construindo um diálogo. Mas se Lula receber os votos da maioria dos brasileiros estaremos fazendo as críticas necessárias, e disputando ponto por ponto para que a esquerda se faça mais forte no governo, nas instituições e na sociedade.

Atitude e Resistência

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