quarta-feira, 15 de julho de 2009

As diferentes estratégias das esquerdas latino-americanas

Virou lugar comum dizer que há duas esquerdas na América Latina: uma seria “vegetariana”, a outra “carnívora”; uma seria radical, a outra moderada; uma seria revolucionária, a outra reformista; uma seria socialista, a outra capitalista.

Definições dicotômicas deste tipo são feitas pelos porta-vozes (oficiais ou oficiosos) do Departamento de Estado dos EUA, com o propósito explícito de provocar discórdias na esquerda latino-americana, fazendo-a lutar entre si e não com os inimigos comuns.

Evidentemente, não há maneira nem motivo para negar a existência de diferenças programáticas, estratégicas, táticas, organizativas, históricas e sociológicas na esquerda latino-americana. Falaremos destas diferenças mais adiante. Mas uma interpretação dicotômica das diferenças realmente existentes, além de servir aos propósitos políticos da direita, expressa uma interpretação teórica incorreta.

O reducionismo (dizer que há duas esquerdas na América Latina) ajuda politicamente a direita, porque traz implícita a seguinte conclusão: o crescimento de uma depende do enfraquecimento da outra, numa equação que convenientemente tira de cena os inimigos comuns.

O reducionismo, ademais, é uma interpretação teórica incorreta, inclusive por não conseguir explicar o fenômeno histórico dos últimos onze anos (1998-2009). A saber: o crescimento simultâneo das várias esquerdas latino-americanas.

Ao contrário dos partidários da visão reducionista, sob qualquer das suas formas, defendemos que o fortalecimento experimentado, desde 1998 até hoje, pelas diferentes correntes da esquerda latino-americana, se deve em parte à sua diversidade, que vem permitindo expressar a diversidade sociológica, cultural, histórica e política das classes dominadas de nosso continente. Fosse homogênea e uniforme, fosse apenas uma ou duas, não apresentaria a fortaleza atual.

Defendemos, também, que a continuidade do fortalecimento das esquerdas latino-americanas dependerá em boa medida da cooperação entre as diferentes correntes existentes. Tal cooperação não exclui a luta ideológica e política entre as múltiplas esquerdas; mas esta luta precisa ocorrer nos marcos de uma máxima cooperação estratégica.

Tal cooperação será tão difícil quanto mais imperfeita for nossa compreensão acerca do processo que estamos vivendo.

A base político-material que torna possível a cooperação entre a maioria das diferentes correntes da esquerda latino-americana é a existência de uma situação estratégica comum. Se esta situação vai continuar existindo ou não, isto dependerá da luta político-social que está em curso neste exato momento.

As correntes ultra-radicais ou hiper-moderadas que se recusam a perceber a existência de uma situação estratégica comum, são exatamente aquelas que, consciente ou inconscientemente, prestam serviço às classes dominantes locais ou ao imperialismo.

( Este texto é a primeira parte da palestra apresentada por Valter Pomar, em seminário promovido pelo Instituto Rosa Luxemburgo, nos dias 2 e 3 de maio de 2009. Interessados na versão completa devem solicitar diretamente ao autor, no endereço pomar.valter@gmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email )

Valter Pomar é secretário de Relações Internacionais do PT

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