sexta-feira, 12 de junho de 2009

copiado daqui: http://revistamuito.atarde.com.br/?p=1830



Confira trechos inéditos com o secretário estadual de Desenvolvimento Social e combate à pobreza, Valmir Assunção, o entrevistado da seção Abre Aspas, da edição da revista Muito deste domingo (06/6)

Tatiana Mendonça

>> O ENCONTRO COM O MST
Sou assentado em Riachão das Ostras, na cidade de Prado. Entrei no MST em 86. Antes disso, com 14 anos fui morar em São Paulo. Morei numa favela, trabalhei de ajudante de pintor de automóvel. Fiquei indo e vindo um bom tempo até que voltei para Nova Alegria, meu povoado, onde nasci e me criei, no município de Itamaraju. Conheci Itamaraju quando estava indo de ônibus para São Paulo (risos), com 14 anos. Minha família era muito pobre, eu não tinha dinheiro. Conheci Salvador quando vim fazer a negociação… Tivemos uma luta em Nova Alegria… É um povoadozinho que tem água da Embasa. Eu trabalhei de encanador da Embasa, depois de voltar de São Paulo. Toda a água de Nova Alegria eu fiz a encanação principal. Só que a barragem que fizeram é no lugar mais alto, e aí não chegava água. Eu entrei no grupo de jovem da igreja católica e era muito atuante. A gente construía casa, fazia mutirão, arrumava feira pros mais pobres… Eu devia ter uns vinte anos. Aí resolvemos fazer um boicote à Embasa e reunimos o talão para não pagar a água enquanto não tivesse água pra todo mundo. Foi quando vim conhecer Salvador. Viemos trazer os talões de água para entregar à Embasa. Só que mesmo assim a Embasa continuou cobrando… Isso criou um problema sério pra nós porque o grupo perdeu credibilidade. Depois de alguns anos Nova Alegria tem água em todo canto…Foi através desse grupo que eu conheci o MST. O dirigente do MST que estava na Bahia precisava de militante para mobilizar as famílias. E tinha que pegar a pessoa que tinha mais credibilidade no município. E eu fiz esse trabalo em Nova Alegria e em todo o extremo sul. Aí foi esse processo constante. Até hoje não tem como me desvincular. Estudei até a 8ª série em Nova Alegria, porque não tinha condição de estudar, não tinha estudo lá. Depois disso, agora no momento eu teria oportunidade…
>> JUVENTUDE
O governo criou as Conferências municipiais, o Conselho da Juventude, estabeleceu uma política para a juventude, no Estado, de capacitação da juventude pro mercado de trabalho, criou uma superintendência da juventude, então acredito que nesse aspecto se avançou muito. Lógico que boa parte da juventude gostaria que tivesse uma secretaria. E minha expressão lá foi nesse sentido. Sempre tive um trabalho com a juventude, então tenho que expressar o sentimento e a vontade desse segmento. Nós aqui na secretaria temos uma política pra juventude. Nós trabalhamos o protagonismo juvenil, a profissionalização. Temos projetos importantes, que me orgulham muito. Temos um convênio com uma ONG que capacita 400 jovens do centro histórico que ganham bolsa de R$ 100 e aprendem TV e vídeo. É a primeira vez que o Estado da Bahia faz um projeto desse. Essas pessoas são pobres, filhos de alguém que está no Bolsa Família, sobretudo negros. É o estado dando oportunidade para os excluídos se incluirem num ramo profissional que nunca foi para os negros. Em Alagados também temos 400 jovens que são capacitados na construção civil e como agentes de desenvolvimento social. E no Extremo Sul vamos lançar um convênio para 1.080 jovens, para capacitação no meio rural. Minha realização nisso é criar oportunidade para as pessoas.

>> MORADORES DE RUA
Queria falar sobre o desafio que é fazer com que as pessoas deixem de viver nas ruas. A prefeitura lançou a “Campanha Ajude de Verdade”, para que as pessoas deixassem de dar esmola e passassem a doar para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Mas o fato é que falta uma rede de retaguarda para atender essas pessoas. No SUAS o Estado não pode executar políticas diretamente. Quem tem que executar é o município. Nós temos aqui um programa chamado Bahia Acolhe, lançamos no final do ano. É um esforço para acolher as pessoas que estão morando na rua. Nós estamos construindo com a prefeitura uma ação para dar uma oportunidade para os jovens das sinaleiras, que dormem nas ruas. Estamos construindo um CREAS (Centro Especializado de Assistência Social no Pelourinho).

>> CASE
Precisamos primeiro tirar os adolescentes de lá para essas duas casas de internação que serão construídas. Temos que ter uma estrutura no município de cumprimento da medida em meio aberto, que é a prestação de serviço à comunidade e a liberdade assistida. Nós co-financiamos e apoiamos os municípios nessa medida. O município ter isso é uma estrutura fundamental. O outro passo é a semi-liberdade, e nós vamos ter nas principais cidades do Estado. Essas casas podem ter até 20 adolescentes, com acompanhamento de técnicos. A semi-liberdade permite que ele estude normal. E na internação provisória, de 45 dias, queremos ter três centros: tipo Barreiras, Itabuna… Porque são cidades que têm uma quantidade muito grande de adolescentes que vem cumprir medida aqui. Essa estrutura nós montamos no Estado. 20 municípios assumiram as medidas de meio-aberto. Para isso funcionar tem que ter Conselho da Criança e do Adolescente e Conselho Tutelar.
>> Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
Na Bahia existia um duplo comando na assistência social, que tinha uma superintendência na Secretaria do Trabalho e na Secomp, antiga Sedes. Sem falar das voluntárias sociais, que também faziam esse trabalho. Na equipe de transição de Jaques Wagner, fez-se um diagnóstico para poder criar um comando único. No Sistema Único de Assistência Social cada esfera, município, governo estadual e governo federal, tem a sua responsabilidade. A do Estado é a capacitação, acompanhamento, fiscalização e co-financiamento. É uma política que tem o controle da sociedade civil. Por isso que os Conselhos de Assistência Social têm que funcionar. Temos Conselhos em 410 municípios. Sete municípios ainda não se habilitaram no SUAS. A Bahia tem 413 CRAS (Centros de Referência de Assistência Social), que é a porta de entrada da família para a assistência social. Nós co-financiamos os CRAS. O decreto fundo a fundo também foi muito importante, porque permite ao governo repassar os recursos do Fundo Estadual de Assistência Social para o Fundo Municipal, sem precisar fazer convênios com os prefeitos. É um fortalecimento do sistema.

>> TRAJETÓRIA POLÍTICA
Se você me pergunta: você está arrependido ou triste (de ter-se tornado secretário)? De jeito nenhum. Os espaços políticos que os trabalhadores tiverem condições de ocupar, tem que ocupar e dar o melhor de si para não frustrar as pessoas que sempre acreditaram em você. Eu tenho trabalhado aqui muito, porque tenho que superar minhas limitações. Tenho que trabalhar mais que os outros. E não posso decepcionar. Porque se aqui não der certo, as pessoas, os mal-intencionados da sociedade vai dizer que é porque eu sou analfabeto, vai dizer que é porque eu sou preto, pobre, é por isso. Vão dizer: “tá vendo, que não dá certo?”. Trabalho muito porque carrego essa responsabilidade no meu ombro. Por isso que tem que dar certo. É cada dia salvando um leão. Não é matando porque isso é crime ambiental. Tem que dizer salvando. (risos)

Nenhum comentário: